domingo, 8 de julho de 2012

9 DE JULHO. DOS PAULISTAS. FERIADO.


BREVE HISTÓRIA DE UMA REVOLUÇÃO.

O Sangue Paulista
No início do ano de 1.932, a Liga Paulista Pró Constituinte, aderindo às aspirações patrióticas, mandava publicar nos jornais do interior a seguinte circular:

"Paulista! Em Ribeirão Preto ou Iguape, em Santo Anastácio ou Bananal, onde haja um paulista só existe um anseio: São Paulo livre governado por paulistas. Como, porém, existir liberdade em uma senzala? E o Brasil, ninguém o negará, está reduzido a uma infecta senzala rondada com cuidados pela camarilha da ditadura. O ‘caso’ de São Paulo é o ‘caso’ do Brasil. É ingênuo imaginar um Estado Livre encravado em uma nação escrava.Urge restituir ao Brasil a posse de si mesmo. É imperiosa a volta ao regime constitucional. Assim pensando, os universitários de São Paulo acabam de fundar a Liga Paulista Pré Constituinte. A Liga não tem cor partidária. Ela aceita a colaboração de todos os que desejam batalhar por uma Constituição que honre e dignifique a nossa Pátria. É preciso, entretanto, que o grito dos universitários paulistas seja esplendidamente ouvido em todos os recantos de nosso Estado e seguindo as trilhas das bandeiras de Borba Gato diga a todos os brasileiros que a consciência de São Paulo não vive bem sob a guante da ditadura. A Liga Paulista Pró Constituinte espera que o seu jornal seja incansável na campanha pela reconstitucionalização do país e se sentirá orgulhosa pela publicação desta circular. A Liga lhe ficará grata pela remessa sistemática do seu jornal. O Brasil não quer e não pode viver sem uma Constituição".

Isto foi publicado no dia 17 de janeiro de 1.932 no jornal ‘O Progresso’, de São Miguel Arcanjo, um semanário independente consagrado aos interesses do município e da zona, sendo diretor e proprietário Antenor Moreira Silvério e redator responsável Acácio dos Santos Terra, prova de que São Miguel Arcanjo fazia parte do contexto nacional. 

Os Paulistas de São Miguel Arcanjo

Como já dizia o grande historiador são-miguelense J. Severo, ninguém poderá negar a São Paulo a iniciativa heroica, encabeçada pela velhice iluminada do grande e venerando paulista Conselheiro Antonio Prado e amparada pela juventude de suas academias, de haver criado o surto de idealismo puro e nobilitante, que havia de combater, como de fato combateu, o regime apodrecido da fraude e do desvirtuamento geral do caráter, regime esse que campeava desenfreadamente de sul a norte do país.
Ninguém poderá negar que de São Paulo partiram as primeiras caravanas indômitas, levando as palavras de ordem e de fé patrióticas, consubstanciadas no decálogo democrático, a todos os recantos da periclitante república.
Por toda parte houve um como que despertar das consciências que jaziam adormecidas ante a impossibilidade de um ataque vitorioso aos fortins blindados das oligarquias nefandas.
Pessoas como o Major Luiz Válio, Edwirges Monteiro, Coronel João Paulino da Silva, José dos Santos Terra, Adail de Souza, Astrogildo Silva, Ciro Terra, Aníbal Coelho de Góes, Salvador Costa, João França, Acácio dos Santos Terra, Euzébio Pereira de Assis, Alcindo Nogueira, Pedro Preto de Oliveira, os irmãos Salomão, José e Abílio Ibrahim, entre outros, lutaram pelo mesmo idealismo em São Miguel Arcanjo.
Quando irrompeu a revolução a 9 de julho, São Miguel representava o melhor ponto de ligação para a região ribeirinha de Iguape e a estrada para o sul, através de Ponta Grossa e Curitiba. Por essa razão, as forças de Getúlio, avançando do sul para a capital paulista, forçosamente tiveram que passar por aqui, pois era a única ligação, falando-se em estrada, com os Estados.
O avanço das tropas federais amedrontou a população. Muitos moradores fugiram, mas alguns resolveram prestar assistência aos paulistas que recuavam cansados.
Esses paulistas, à época, abriram uma trincheira nas terras pertencentes ao Major Luiz Válio, nomeado chefe da zona, terras essas que ficavam na divisa do perímetro urbano da cidade. 
As tropas governistas requisitaram a casa paroquial para nela instalarem o seu Estado Maior. Era vigário o padre Olegário Barata, que aqui viera substituir o Monsenhor Henrique Volta, que partira nesse mesmo ano de volta à Itália.
Enquanto a revolução espocava pelos arredores de São Miguel Arcanjo, o padre Barata jamais deixou de estar na sua paróquia vinte e quatro horas por dia, orando pelos moradores e pelos 25 voluntários que saíram da cidade para lutar nas frentes de batalha, em defesa dos direitos constitucionais para todos os brasileiros. 
As batalhas mais renhidas aconteceram nas regiões de Itararé e Buri e nas divisas entre São Miguel Arcanjo e Capão Bonito, no perímetro Rio Guapiara /Bairro Taquaral Abaixo /Rio das Almas.
Os combatentes feridos eram atendidos na capela do Gramadinho e em São Miguel Arcanjo, enquanto os aviões vermelhinhos vigiavam tudo de cima. Caminhões e mais caminhões aqui chegavam com novas tropas que deveriam se posicionar em pontos estratégicos. 
O povo pacato e simplório estremecia à simples menção do nome dos "pés no chão" de Getúlio.
Documento assinado por Tasso Pinheiro aos 05 de setembro de 1.932, que faz parte do nosso acervo, diz ter recebido do então delegado Luiz Válio vários utensílios que seriam utilizados pela nova turma de "sapadores" em organização na região de Taquaral Abaixo, tais como: 
8 enxadões com cabo, 
33 enxadões sem cabo, 
20 picaretas sem cabo, 
7 foices, 
4 chibancas com cabo, 
16 chibancas sem cabo, 
31 cabos de machado, 
20 cabos de enxada, 
4 machados, 
83 pratos de folha, 
72 canecas, 
76 colheres, 
meio saco de sal, 
1saca de arroz, 
1caixa de chocolate, 
1caixa de salame 
e 1 lata de pão de guerra. 

As forças paulistas, porém, sofreram muitas baixas, principalmente no espaço aéreo. Muitos aviões foram destroçados, muitas traições aconteceram também.
Os integrantes do pelotão do Major, juntamente com a população por ele convocada, dispuseram-se a abrir uma estrada que ligasse à capital, para que os paulistas pudessem fugir dos gaúchos. 
Por Itapetininga, isso se tornou impossível; imediatamente abriu-se a estrada sentido Pilar do Sul, construíram-se pontes e as tropas puderam então fugir com tranqüilidade.
O pior havia sido evitado.

O FERIADO
 ESTADUAL DE 9 DE JULHO

A Lei Federal n. 9.093, de 12 de setembro de 1995, sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, que dispõe sobre feriados, determina que a data magna do Estado, fixada em lei estadual, feriado civil. Assim sendo, no Estado de São Paulo, o então Deputado Guilherme Gianetti apresentou o Projeto de Lei n. 710/1995, que deu origem a Lei Estadual n. 9.497, de 05.03.1997, instituindo o dia 9 de julho como feriado civil do Estado.
Por que 9 de julho?
Nessa data comemora-se a deflagração da Revolução Constitucionalista de 1932, considerada a data magna do Estado de São Paulo.

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