sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

POR FALAR EM ÁGUA...


Quando eu nasci, não havia água encanada em São Miguel Arcanjo.
Cada família construía seu poço no quintal de casa.
Quem não tinha condições monetárias para fazer um poço, servia-se da água do vizinho, porque sempre podia haver uma barganha: quem não tinha em casa aquele feijão jalo que nasceu na cerca, abóbora para fazer salada ou doce, milho verde para cozer, assar ou fazer pamonha, mandioca, doce de cidra, pão caseiro, goiabada, leite fresco...
A água de poço era fresca, boa, sem cheiro, sem cor, com sabor só de água.
No sítio onde morávamos, não havia poço; água era coisa muito difícil de encontrar para abrir um por lá, pois nenhum poceiro se aventurava a entrar terra abaixo mais de vinte metros...
Bebíamos água de uma nascente, tão ou mais branquinha do que a água tirada do poço de minha avó, na cidade.
Nunca tivemos que beber ou fazer uma comida com uma água como a que saiu hoje ( na foto, a primeira garrafa à direita é água de hoje, em sequência, a de ontem e a de anteontem) e outras incontáveis ocasiões - de minha torneira.
Pois então, continuando: lá um belo dia, um médico que aportou por aqui foi dizer ao senhor prefeito que a água de poço sem tratamento era um líquido bastante perigoso e podia até matar - e mais rapidamente - os moradores.
O que se fez, então?
Foi uma luta árdua para o prefeito e sua corriola, porque tinha vereador que não compactuava da mesma ideia sobre o mágico líquido.
Mas afinal, criou-se o serviço autônomo de água e esgoto na cidade, ligado à prefeitura, claro.
Como tem coisas das quais não nos lembramos, talvez devido à idade, talvez devido a não termos dado importância àquilo que dizia respeito aos adultos, não me lembro se havia cobranças exorbitantes sobre o precioso líquido.
Os moradores foram obrigados a desativarem seus poços.
O tempo passou e o Governo do Estado também quis cavar uma boquinha, pois parecia que o negócio da água encanada e tratada era rentável, bolo grande. 
Veio então a Sabesp.
O negócio da água virou pura política, hoje, politicalha.
Às vezes falta água, mas continuamos a pagar à concessionária.
Por diversas vezes, a água vem suja e continuamos a pagar à concessionária.
Parece que mais moradores morrem de câncer, hoje em dia.
E do jeito que está-se desenrolando o assunto ÁGUA, dá até para crer mesmo que a próxima guerra mundial será motivada por ela ou pela falta dela.
E como o Governo não investe em nada que beneficie diretamente ao cidadão, está na hora de voltarmos a ter água de poço, cada qual administrando a sua própria torneira.

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