quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CLÍNICA "RECOMEÇO", UM PEDAÇO DO INFERNO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS


Proprietário de clínica acusado de torturar pacientes é preso.
O homem detido também responderá por sequestro e cárcere privado.
Investigadores do 4º/9º Distritos Policiais de Sorocaba prenderam hoje em Araçoiaba da Serra, mediante cumprimento de mandado de prisão preventiva, o proprietário da clínica Recomeço, situada no bairro Itinga, que apesar de fazer divisa com Salto de Pirapora, fica em território sorocabano. 
Francisco Antonio Almeida, de 41 anos de idade, que dirigia a clínica de recuperação para dependentes químicos, é acusado de tortura, associação criminosa, sequestro e cárcere privado. Outros quatro funcionários e parentes dele foram presos em flagrante em agosto do ano passado, durante uma operação conduzida pelo Ministério Público e a Polícia Civil de Salto de Pirapora, com o apoio da Secretaria de Saúde de Sorocaba. Na ocasião, diversos internos denunciaram agressões físicas, exibindo inclusive marcas das lesões.
Conforme explicou o investigador chefe do 4º/9º DPs, Fábio de Araújo, o início da investigação se deu pela Polícia Civil de Salto de Pirapora porque se imaginava que a clínica pertencesse àquele município, e por isso, posteriormente o caso passou a tramitar por Sorocaba. Entretanto, na data das denúncias, em 18 de agosto, uma equipe comandada pelo delegado Gilberto Montenegro Costa Filho ouviu relatos de pacientes sobre até então as supostas agressões, e oito deles foram até a delegacia formalizar os depoimentos. 
A diligência na clínica havia sido determinada pelo promotor de Justiça Luiz Fernando Guinsberg Pinto, a partir de denúncia encaminhada por advogado de familiares de uma das vítimas. 
Porém, no decorrer do inquérito presidido pelo delegado titular dos DPs, André Moron Machado, constatou-se que o acusado, além de proprietário da clínica era quem determinava as agressões. 
Na clínica ele ocupava o cargo de coordenador operacional e administrativo. Também durante as investigações, as lesões denunciadas foram constatadas por laudos médicos.
Diante disso, o delegado André Moron relatou o inquérito e encaminhou para a Justiça. 
Após as oitivas, o juiz da 1ª Vara Criminal de Sorocaba, Jayme Walmer de Freitas, entendeu que o caso era de prisão e decretou a preventiva.
Entre as irregularidades descritas constam a de que internos eram mantidos em cômodos individuais sem banheiro, precisando fazer as necessidades fisiológicas num pote, além do que a alimentação era passada por uma janela. 
Outra denúncia, dessa vez feita por internos do sexo masculino, dão conta de que se algum deles olhasse para uma mulher da clínica, seriam agredidos por chutes, chineladas, socos, e até pedaços de pau.
Na ocasião do flagrante foram presos Jefferson de Almeida, Carlos Henrique da Silva, Jonathan Willian de Assis Ribeiro e Eliane Mascarenhas. Entre esses, um é filho de Francisco, e a mulher sua nora. Segundo informações policiais eles permanecem presos.
Apesar de oito possíveis endereços, os investigadores só conseguiram encontrar Francisco Antonio trabalhando numa clínica, também de recuperação de dependentes químicos, em Araçoiaba da Serra, e graças à uma coincidência provocada pelo próprio acusado. Isso porque, no domingo, o acusado esteve num plantão policial da cidade para registrar uma ocorrência sobre "exercício arbitrário das próprias razões", no qual aparecia como vítima, e para sua sorte, seu mandado de prisão, apesar de já expedido pela Justiça, não constava no sistema da Polícia Civil, e ele voltou para sua casa.
Entretanto, numa feliz coincidência para a polícia, os investigadores do 4º/9º DPs resolveram, em mais uma tentativa, verificar se havia alguma ocorrência envolvendo o acusado para tentar descobrir seu atual endereço, e deu certo. 
Com base no endereço citado na ocorrência, os policiais chegaram até ele na clínica ontem pela manhã.
Segundo informou o investigador-chefe Fábio de Araújo, Francisco Antonio não apresentou resistência. 
Ele foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória (CDP). 
Adriane Mendes/ Jornal Cruzeiro do Sul.

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