quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O GATO BORRALHEIRO

Vou mudar um pouco essa estória...
Há muito, muito e muito tempo, num vilarejo localizado próximo a um sertão onde várias onças bebiam água, vivia um casal que não era casado, mas se chamavam de "MÔ" o dia inteiro. 
Por que não se casaram?
Porque a mulher não queria perder a bolada mensal deixada pelo marido que havia morrido afogado num ribeirão bem fundo.
O casal morava com dois garotos que só eram filhos do homem; ele havia enviuvado, segundo consta - não se sabe se durante um inverno rigoroso, como na estória.
Uns meninos magros, franzinos, empalamados, compridos, feinhos mesmo.
Pois então: desde a junção do tal homem com a mulherona, a vida se apagou para os dois. 
Tristes, não tinham chance de brincar como fazem as outras crianças.
Riso naquela casa?
Comida?
Sei lá!
O mais velho dos meninos tornou-se uma verdadeira gata borralheira: tinha que pagar com seu trabalho a comida, a bebida, a roupa, a dormida; não tinha mais sossego nem para viver, o coitado.
Sorte tinha o menor que, de tanto ver o maior ser maltratado e chamado de anta e de biscate, cada vez mais se parecia com o jogador Messi. 
Dizem que Messi tem Síndrome de Asperger...
Mas nesta história real, o pai também maltratava o moleque, do mesmo jeito que a pensionista fazia. 
À noite, eles dormiam juntos e faziam sexo, como se nada daquilo importasse.
O que você está esperando?
Não vai haver baile nesta história.
Fada Madrinha não vai haver nesta história.
Não vai haver cabaça para ser transformada em carruagem. 
Nem ratos para serem transformados em cavalos. Nem 
cocheiros e nem criados.
Não vai haver varinha mágica nem para criar uma bota de sete léguas para que o menino possa fugir do seu destino.
Pois o menino desta história não tem tempo nem para sonhar. 
E se tivesse tempo para sonhar, não sonharia com nenhuma princesa encantada que o pudesse salvar da bruxa má, é claro.
Então, com certeza, o final desta história será outro.
Quem viver, verá.

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