quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019


Poucas vezes alguma celebridade em que a sociedade depositava a mínima expectativa de bom senso falou uma besteira tão grande, quanto disse Zezé di Camargo. 
Não vale aqui, fazer qualquer revisão da vida de Zezé, seria no mínimo preconceito e arrogância, ou uma análise com a mesma qualidade artística de suas músicas.
Afirmar que nunca houve ditadura militar no Brasil, ou qualquer outra afirmação do tipo, já demonstra imensa ignorância. 
Afirmar-se politizado, após o que disse, piora ainda os fatos. Note, se ele for politizado e defendeu uma intervenção militar, ele é cruel e demonstra uma estupidez voluntária. 
Prefiro a opção de se tratar de um completo ignorante.
Aliás, o pesquisador e compositor Carlos Henrique Machado Freitas, efetuou uma excelente observação sobre o período vivido de 2014 até aqui, quando o assunto é política e sociedade. 
Segundo ele, não foi o ignorante político que quis falar de política. Mas o ignorante, na acepção do termo, que decidiu discutir política. O resultado foi o radicalismo na burrice, muitas vezes aplicado a ambos os lados. O ignorante entende melhor a linguagem da torcida, e qualquer profundidade em qualquer que seja o assunto, daí o flaflu político.
Zezé di Camargo, ao se tornar uma exceção na sociedade, estando por muitos anos muito acima na pirâmide social, age como qualquer rico. Não se espera de um estrato social como o dele, nada além de seus privilégios. 
Como artista, se transformou em produto e como produto, está formatado para ser comprado por consumidores doutrinados na única religião fundamentalista no mundo, o mercado. 
Zezé goza de um privilégio raro numa sociedade de pobres e explorados, o privilégio da ignorância.
O tema é muito bem tratado por diversos pensadores que fundamentaram o trabalhismo e o pensamento progressistas. Não cabe ao pobre e ao explorado o privilégio da ignorância, ele deve aprender, estudar, saber algo ou alguma técnica, de modo a vender sua mão de obra, único produto que tem a oferecer no mercado. 
No caso de artistas como a do sertanejo, o longo tempo cristalizado nos privilégios e fundamentado numa história de sofrimento e pobreza que ficou há muito no passado, goza da ignorância adquirida por ter se tornado um produto muito vendável em sua época. 
Agora, tem tempo para viver do que produziu artisticamente e, por isso, emitir opiniões que julga inteligente. Obviamente, não se deve esquecer dos óculos, para dar um ar de intelectualidade.
A prova da ignorância é a própria sentença dita, na afirmação de ser politizado. 
Que o é, dificilmente se diz politizado, é da natureza da pessoa que intelectualizou, no sentir a necessidade de afirmar a validade do que diz. 
Afirmar-se politizado, nessas circunstâncias é carimbar de ignorância o que está por dizer. 
Lamentável e uma prova de que até a ignorância é um privilégio social.

Copiado: https://www.apostagem.com.br/2017/09/12/zeze-di-camargo-e-ignorancia-como-privilegio-social/
Fonte: Praia de Xangri-Lá

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