sexta-feira, 24 de agosto de 2012

AS HISTÓRIAS QUE FORAM ENTERRADAS EM SÃO MIGUEL ARCANJO.

Algumas pessoas que fizeram história dentro da própria história do município de São Miguel Arcanjo foram relegadas a um plano tal que os conhecimentos atuais jamais alcançarão.
Quanto mais constatamos, através de eventuais resgates, sobre o que esses elementos foram capazes de fazer num tempo tão difícil em que a vida principiava a desenvolver-se no município, delineando caminhos, abrindo frestas de comunicação com a região por dentro de um perigoso, todavia majestoso sertão, mais admiramos o legado que deles pudemos subtrair.
Experimentarmos um só momento dessa capacidade ímpar dos nossos ancestrais, parece-nos doce e ao mesmo tempo triste, porque não pudemos até agora erguer-lhes um digno mausoléu para além de nosso íntimo.
É um legado pleno de humanidade e fraternidade.
Eles que, em tempo algum se deixaram escravizar por quem quer que fosse!
Eles que respeitaram sempre os ditames do coração, porém, sob a égide da racionalidade e da justiça!
Eles que jamais deixaram de nutrir-se dos bons princípios ligados à família, à liberdade e ao espírito sempre atento das normas divinas da  criação!
Intelectuais amantes da cultura, aqui fundaram banda de música e até partido político. Para a organização dessa banda de música em São Miguel Arcanjo, reuniram-se no dia 20 de maio de 1.923, em casa do Capitão Antonio Arantes Galvão, os cidadãos senhores Major Luiz Válio, Capitão Clodomiro Arantes Galvão, Mário Augusto de Medeiros, José César de Noronha, Capitão Antonio Arantes Galvão, Manoel Fogaça de Almeida Júnior, professor José Fogaça, Antonio Ferreira Leme, Pedro Ribeiro Vaz, Euzébio Pereira, Maximino Gomes de Almeida, Nestor Fogaça, Armando Pires, Pedro Arantes, Moacir Válio, Aristeu Válio, Antonio Carlos Noronha, Cassiano Vieira, Manoel Paulino Teixeira, Euclides Nunes Vieira, Benedito Vieira Pinto, Luiz César, Thomaz Galvão Nogueira e Manoel Teixeira de Arruda.
Dentre os presentes, ficou resolvido que o nome da banda de música seria "EUTERPE DR. VITAL FOGAÇA".
Os ensaios deveriam ter início muito brevemente e para que a reunião tivesse foro de organização foi eleita a diretoria, por aclamação, que ficou assim constituída:
Major Luiz Válio - Presidente;
Mário Augusto de Medeiros - Secretário;
Capitão Antonio Arantes Galvão - Tesoureiro;
Antonio Ferreira Leme - Procurador.
Para reger a banda recém criada foi contratado o maestro Raphael Paschoal.
Os instrumentos musicais foram encomendados em uma loja de São Paulo poucos dias depois.
A banda de música seria uma sociedade independente e prestaria os seus serviços todas as vezes que fosse reclamada para quaisquer grupos políticos que dela precisasse ou para quaisquer festividades pelo município e em toda a região.
A estreia da banda aconteceu no dia 27 de setembro de 1.923.
Esses intelectuais amantes da cultura e da política, acabaram fundando diversos jornais e até um partido político, devido ao absurdo da situação a que chegara o desenvolvimento do município.
Em meados de 1.922, começou em São Miguel Arcanjo o seu alvo de decadência e desorganização.
Antes disso, tomaram vulto as construções, movimentou-se a indústria, cresceu a lavoura, voltaram-se para o município as atenções do Governo, levantava-se novamente a questão da abertura da estrada de Sete Barras, o representante do município interviera junto aos Poderes competentes e o engenheiro David Mac - Knight já estava varejando a sertania da Serra do Mar.
De repente, porém, as intrigas, a inveja, os ódios pessoais entraram em ação, levando o município a um estado de incubação.
Políticos de vários credos faziam parte do diretório do Partido Republicano Paulista, sob a presidência do major Manoel Fogaça de Almeida Júnior.
Com as eleições de dezembro de 1.922, a corporação esfacelou-se, vencida nos seus brios e nos seus nobres intuitos, sem forças para desvencilhar-se das tramas urdidas pelos elementos da desordem.
Os eleitos no pleito de dezembro reuniram-se em janeiro e o que aconteceu?
Uma anarquia geral!
Poderes foram verificados!
Vereadores foram excluídos!
Absurdos inqualificáveis foram cometidos!
Foi então que um grupo de filhos da terra, que a ela já tinham prestado ou vinham prestando serviços, composto de patriotas que ocuparam cargos elevados na administração do município, como sejam os de delegados de polícia, prefeitos municipais, juízes de paz e vereadores à Câmara Municipal, reuniram-se no dia 28 de fevereiro de 1.923, discutiram as questões políticas em foco e organizaram o Partido Republicano Municipal, no intuito de providenciar para que a localidade se mantivesse em posição honrosa e seu progresso fosse sempre contínuo para o bem- estar de seus habitantes.
As primeiras atas dessas reuniões foram publicadas no jornal próprio do partido, denominado "A Razão", dirigido pelo Major Luiz Válio e gerenciado por Mário de Medeiros.
A primeira ATA
- "Aos vinte e oito dias do mês de fevereiro de mil novecentos e vinte e três, nesta cidade de São Miguel Arcanjo, Estado de São Paulo, Comarca de Itapetininga, pelas doze horas, em uma das salas do prédio onde funciona o "Hotel do Sul", nesta cidade, cuja sala fica sendo a sede do Partido hoje organizado, reuniram-se os cidadãos Luiz Válio, Clodomiro Arantes Galvão, Antonio Arantes Galvão, Antonio Alves Machado, José Bento Mariano e Mário de Medeiros, e dentre eles foi eleito para presidir a presente reunião o cidadão Luiz Válio que convidou para Secretário o cidadão Mário de Medeiros. Neste ato, compareceram mais os cidadãos José Ribeiro da Costa Vaz e Antonio Terra que tomaram parte nos trabalhos. O Presidente declarou que a presente reunião tinha por fim a organização do Partido Republicano Municipal, desta cidade, partido este que prestará apoio incondicional ao Governo do Estado e à Comissão Diretora do Partido Republicano Paulista. 
Em seguida, o Presidente expôs, depois de discutido e aprovado unanimemente pelos membros presentes, o programa do Partido Republicano Municipal, hoje organizado, que é o seguinte:
1o. Zelar pelos interesses do município, procurando estabelecer a paz e a concórdia entre os seus dirigentes que por acaso queiram extraviar-se do caminho do dever e do respeito às leis municipais, do Estado e da União;
2o. Zelar pelo progresso do município, mantendo para esse fim as relações que forem possíveis com os altos poderes constituídos do Estado, no sentido de obter destes o apoio necessário as suas justas aspirações;
3o. Concorrer às eleições municipais todas as vezes que julgar necessário aos interesses do povo e quando o partido dirigente local não concordar com a escolha de individualidades capazes de assumir com honestidade e isenção de ânimos, o governo do município;
4o. Auxiliar mesmo aquela facção partidária que no seu entender e de acordo com a resolução unânime de seus membros, estiver com o propósito firme de executar o seu programa de paz, de progresso e de concórdia;
5o. Neste sentido, o seu fim é combater as maiorias fantásticas que se apresentarem na política local, com o escopo de promover vinganças e perseguições, procurando o Partido estabelecer o equilíbrio necessário, a fim de que as facções em divergência fiquem privadas de exercer pressão sobre os seus adversários, que é a origem do desassossego público e da intranquilidade das famílias;
6a. Quanto às eleições Estaduais e Federais, o Partido obedecerá exclusivamente a orientação que lhe for dada pela Comissão Diretora do Partido Republicano Paulista. 
Finda a exposição e estabelecido o programa, o Presidente declarou que, entre os membros presentes do Partido existem dois vereadores reconhecidos à Câmara Municipal desta cidade e que se acham ainda com direito à posse de seus cargos, que são os cidadãos Luiz Válio e Antonio Arantes Galvão e um vereador que, apesar de diplomado, não foi reconhecido pela Câmara, que é o cidadão Mário de Medeiros, o qual recorreu do seu não reconhecimento para o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado. Consultava, portanto, aos membros do Partido sobre a ação desses dois vereadores reconhecidos, isto é, se eles devem ou não fazer parte da Câmara atual que, apesar de estar funcionando ilegalmente, assumiu o governo do município.
Discutido devidamente o caso, foi por unanimidade de votos resolvido que os dois vereadores supra citados devem tomar posse de seus lugares na Câmara, onde deverão manter-se com absoluta isenção de ânimos, procurando o restabelecimento da legalidade e zelando pelos interesses dos contribuintes e do bom emprego do erário público. Passando-se a fazer a eleição definitiva do Diretório Republicano Municipal de São Miguel Arcanjo, por indicação do membro senhor Antonio Alves Machado, foi a mesma feita por aclamação, dando o seguinte resultado:
Luiz Válio - Presidente;
Antonio Alves Machado - 1o. Vice-Presidente;
Antonio Arantes Galvão - 2o. Vice-Presidente;
Mário de Medeiros - Secretário;
Clodomiro Arantes Galvão, José Ribeiro da Costa Vaz, José Bento Mariano e Antonio Terra, membros, ficando portanto constituído definitivamente o Diretório com oito membros, os quais, cada um de per si, se comprometem a observar o programa do Partido, manter absoluta disciplina e o maior sigilo nas deliberações tomadas em suas reuniões. Em seguida, o cidadão Luiz Válio, tomando a palavra, agradeceu penhoradíssimo a sua eleição pelos seus honrados colegas e declarou que se comprometia a nada fazer sem ser de acordo com as suas deliberações, observando fielmente o programa do Partido e procurando a sua elevação perante os poderes políticos do Estado. Nada mais havendo a tratar-se, deu-se por findos os trabalhos da presente Ata, que vai por todos os presentes assinada. Eu, Mário de Medeiros, Secretário, a escrevi.
Luiz Válio, Antonio Alves Machado, Antonio Arantes Galvão, Mário de Medeiros, Clodomiro Arantes Galvão, José Ribeiro da Costa Vaz, José Bento Mariano e Antonio Terra".
A segunda ATA:
"Aos dez dias do mês de março de mil novecentos e vinte e três, nesta cidade de São Miguel Arcanjo, na sede do Partido, às doze horas, presentes os membros Luiz Válio, Antonio Alves Machado, Antonio Arantes Galvão, Mário de Medeiros, Antonio Terra, José Ribeiro da Costa Vaz, Clodomiro Arantes Galvão, José Bento Mariano, deu-se começo aos trabalhos desta reunião, sendo em primeiro lugar indicado por todos os membros do Partido que se consignasse nesta Ata um voto de pesar pelo falecimento do grande brasileiro Doutor Ruy Barbosa, vulto extraordinário da política, jurisprudência e da literatura nacional e, na frase feliz de Júlio Dantas, "o mais alto expoente da mentalidade contemporânea, organização privilegiada de super intelectual, espécie de semideus da palavra falada e escrita, produto equatorial ciclópico da natureza do Brasil, em cujo espírito admira-se todo esplendor, toda exuberância, toda a magnificência das selvas tropicais...". Consignado o voto de pesar, ficou também resolvido que se enviasse à exma. família do ilustre morto, um ofício de condolência, o qual deverá ser assinado respectivamente pelo Presidente e Secretário do Diretório. Em seguida, o senhor Presidente declarou que, em companhia do senhor Antonio Arantes Galvão, vereador como ele à Câmara Municipal, de acordo com a resolução deste Diretório, tomada em sua primeira  reunião, compareceram no edifício onde funciona a referida Câmara, no dia 1o. do corrente, a fim de tomarem posse dos seus cargos. Aconteceu, porém, que o referido se conservou fechado o dia todo, informando-lhes o secretário (empregado da Câmara) que não podia haver sessão ordinária por falta de número. Em vista disso, testemunhado o fato, dirigiram-se à casa do cidadão João Paulino da Silva, que ocupa ilegalmente o cargo de Prefeito municipal, que, por sua vez, informou-lhes não ter havido sessão ordinária nesse dia não para evitar a posse dos vereadores, mas por "simples relaxamento", de modo que, oficiado convenientemente ao presidente da Câmara, aguardam nova oportunidade para tomarem posse. Ficou também resolvido que, em virtude da anarquia e desleixo em que se encontram todas as repartições públicas desta cidade, devido mais, as suas desorganizações, à politicagem  pouco escrupulosa que infelizmente se verifica nesta terra, do que a outro qualquer agente, se oficiasse a todas essas repartições, solicitando dos seus encarregados o restabelecimento da ordem e dos bons serviços que devem prestar ao público e ao interesse local, que vai a uma desoladora decadência fazendo-se saber a todos eles que, acima dos ódios pessoais e interesses próprios, se acham colocados o dever de patriotismo e o bem-estar da coletividade. (Segue-se um período de leitura reservada.). Nada mais havendo a tratar-se, deu-se por encerrada a presente reunião, do que se lavrou esta Ata que vai por todos assinada. Eu, Mário de Medeiros, Secretário, a escrevi.
Luiz Válio, Antonio Alves Machado, Antonio Arantes Galvão, José Ribeiro da Costa Vaz, José Bento Mariano, Clodomiro Arantes Galvão, Mário de Medeiros e Antonio Terra".
A terceira ATA:
"Aos quinze dias do mês de abril de mil novecentos e vinte e três, nesta cidade de São Miguel Arcanjo, na sede do Partido Republicano Municipal, pelas 12 horas, verifica-se a presença dos cidadãos Luiz Válio, Presidente; Mário de Medeiros, Secretário; Antonio Alves Machado, 1o. Vice-Presidente; Antonio Arantes Galvão, 2o. Vice-Presidente; Antonio Terra, José Ribeiro da Costa Vaz, Clodomiro Arantes Galvão e José Bento Mariano, todos membros do Partido Republicano Municipal, desta cidade. Os cidadãos Luiz Válio e Antonio Arantes Galvão, em seguida, comunicaram ao Partido que, tendo, como vereadores eleitos, recebido a incumbência de tomarem posse de seus cargos (o que não puderam fazer anteriormente pelos motivos já explicados na reunião de 10 de março p.p., conforme a Ata desse dia), compareceram ambos numa sessão extraordinária da Câmara Municipal, realizada a 15 de março p. p., perante a mesa prestaram compromisso de seus cargos e tomaram posse dos mesmos na forma da lei, com a expressa declaração, consignada na ata da sessão, de assim procederem, SEM PREJUÍZO DO RECURSO ELEITORAL, que, em companhia de mais dois vereadores, interpuseram para o Tribunal de Justiça das ilegalidades cometidas nas sessões anteriores da Câmara, quando se procedeu a verificação de poderes e eleição da respectiva mesa. No dia 4 de abril corrente, não tendo havido sessão ordinária no dia útil do mês, compareceu o vereador Luiz Válio na sessão extraordinária para a qual foram convocados ele e o vereador Antonio Arantes Galvão, na última hora. Este deixou de comparecer por  achar-se doente. Nessa sessão da Câmara, o vereador Luiz Válio desempenhou-se de duas importantes missões. Tendo sido escolhido pelo Presidente da Câmara para fazer parte da Comissão de três membros que deveria dar parecer à indicação do vereador João Paulino da Silva sobre o nome da Rua do Comércio para a Rua Dr. Júlio Prestes, redigiu ele o parecer que foi aprovado pela Comissão e pela Câmara, do teor seguinte: Tratando-se de homenagear um filho ilustre desta Comarca e que tem sempre empregado os seus melhores esforços em prol do progresso desta cidade, entre cujos esforços se inclui a sua já longa e extenuante campanha na célebre questão  da abertura da estrada de Sete Barras, e cujo estudo se está procedendo por engenheiro contratado pelo governo, e sendo ótimas as esperanças de ver-se esse importante tentame levado a efeito completo, sendo este o maior dos serviços que o ilustre deputado e fino representante deste município poderia ter prestado,por quanto a importante via de comunicação trará forçosamente a  nossa zona progressos e benefícios incalculáveis, a Comissão é de parecer que seja o projeto convertido em lei e devidamente aprovado e publicado pela imprensa. Por indicação sua, foi também aprovado e convertido em lei, o projeto de sua elaboração, concedendo sepultura particular e permanente aos restos mortais do senhor João Borges da Silva, em homenagem aos serviços que este amigo de São Miguel Arcanjo prestou ao município, como particular e como vereador à Câmara por várias legislaturas. Os senhores Luiz Válio e Antonio Arantes Galvão declaram finalmente que encontraram fazendo parte da Câmara, como vereador empossado na vaga do vereador que não foi reconhecido, senhor Mário de Medeiros, o senhor João Balduino Ribeiro, que é apenas suplente e que só poderia ser vereador se, na vaga aberta, conforme a lei determina, fosse novamente eleito para esse cargo. Tomadas em consideração e discutidas as declarações dos senhores Luiz Válio e Antonio Arantes Galvão, o Diretório aprovou unanimemente os serviços prestados à causa pública pelos referidos seus companheiros que se desempenharam bem de suas incumbências, autorizando-os a continuarem a cumprir com os deveres de seus cargos de representantes do povo deste município. Foi também resolvido pelos membros do Partido Republicano Municipal que se fundasse um jornal nesta cidade para defesa dos interesses do município e da política desta agremiação, sendo ele o seu órgão oficial e cuja direção se confiasse ao seu Presidente, para ficar patente que o P. R. M. de São Miguel Arcanjo trabalha às claras e sob responsabilidade perfeitamente definida. Assim procederá o Partido, porque o periódico local "O Imparcial" está abertamente filiado ao grupo dissidente do Partido Republicano Paulista, conforme se vê do seu procedimento, vai descambando para o terreno da parcialidade, que sempre degenera em lutas prejudiciais ao sossego e interesses públicos. O novo jornal deverá defender não só o Partido como os interesses de todos aqueles que se vejam oprimidos pela prepotência de quem quer que seja, empregando, para esse fim, os meios da legítima defesa e justos ataques. Nada mais havendo a tratar-se, deu-se por findos os trabalhos da presente reunião, da qual se lavrou a presente Ata, que vai por todos assinada. Eu, Mário de Medeiros, Secretário, a escrevi e assino. 
Luiz Válio, Antonio Alves Machado, Antonio Arantes Galvão, Antonio Terra. Clodomiro Arantes Galvão, José Ribeiro da Costa Vaz, José Bento Mariano e Mário de Medeiros".

- a continuar, havendo material - 

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