quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"A VELHA MENDIGA"


A velha esfarrapada se envolveu 
na noite, encolhidinha junto à porta 
fechada — e tem o olhar de quem suporta 
seu fim de vida como quem morreu...

E tosse muito, enquanto chove. O seu 
abrigo não protege. Quem se importa? 
(No fundo dos seus olhos, jaz a morta 
imagem de uma rosa que viveu.)

Talvez já tenha sido prostituta 
e visto coisas de arrepiar, na luta 
intérmina de conquistar seu pão...

Porém, a noite é fria. A chuva cai, 
a velha sofre, e tosse muito, e vai 
passar mais uma noite feito um cão.

Eno Teodoro Wanke 
Poema do livro: "Saciedade dos Poetas Vivos" - vol. XI, Blocos, 1997, RJ

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