
Em 1.983, o jornalista João Batista Olivi fez uma reportagem para a Tv Globo sobre a seca do nordeste e entrevistou o menino José Cleiton, que brincava com ossinhos de animais, dizendo que eram seus animais em uma fazenda criada por ele. O repórter não aguentou e chorou diante da câmera. Baseada nesta reportagem, a escritora Ledalge fez um poema intitulado “O menino que brincava com carrinhos de ossos".
Passados 30 anos dessa reportagem o cenário continua o mesmo; só que agora, quem sofre são os filhos daquelas pessoas.

"O menino que brincava com carrinhos de ossos"
“Um olhar tão triste e vago eu via...
Queria ter o poder de Deus às mãos
E tirá-lo daquele chão batido
Daquela casinha de taipa
Dos tapas que levava no rostinho.
Ah! Eu queria ter o poder de Deus às mãos...
Pra abrandar aquele corpo tão magro
Que mal sustentava os ossinhos
Ou eles que mal retinham a carne
Que os urubus tanto esperavam
Não via nada que pudesse fazer naquele dia
Porque criança que chora com dor adulta
é sagrado
Não se pode tirar a dor do peito de quem chora
Não! Não fui Deus nunca! Fui apenas mais
uma palma
Que lava o rosto com bom sabonete
Que usa sapatos brilhosos...
Não sei ser Deus, mas eu quis ser gente!
Grande mulher que açoita o vento...
E que forma sílabas tônicas...
Que bebe água de bica
Eu queria ser gente e tirar daquele menino
O olhar comedido, vazio da insegurança
E por no chão daquele anjo belos sonhos!
Mas, o que vi foi um menino poeta
A fantasiar num pequeno carrinho de ossos
Uma estrada pura sem poeira...
Eu vi Deus acontecer naquele dia!”
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