Sabe aquela marcha, pam pam parampam pam pam, depois aqueles assovios, pam pam?
Quem assistiu A Ponte do Rio Kway, tem ela guardada.
Fiquei muito tempo até descobrir o nome – Colonel Bogey.
Vez ou outra, passo pelo Youtube para ouvir algumas versões. A que mais gosto é de Chet Atkins com Boston Pops.
Hoje, tarde chuvosa, domingo de Páscoa, estou pensando o que significam quarenta anos.
Qual a relação?
Sem filosofia, quero mais dizer, entrei no clima na quinta passada, primeiro de abril de dois mil e dez.
Saí de Piracicaba, cheguei a São Miguel, no meio do desfile comemorativo do aniversário da cidade, pelas dez da manhã. Todos aqueles alunos das escolas, que saudade, imaginem agora o significado de quarenta anos... Imaginaram?
Fui em dois mil e dez, cheguei em mil novecentos e setenta, não podia ser outra data, era eu mesmo no meu desfile, eu mesmo de porta-bandeira, a mesma rua, o mesmo tudo.
Deixei o carro um quarteirão longe, entrei em casa
– Oi mãe, oi não-sei-quem...
Saí à rua lépido, ainda mais com sonho realizado, estava de ray-ban aviator.
Desci à praça, tudo, mesmo tudo, ninguém me tirou nada.
Voltei aos dezesseis, tive certeza, encontrei a Gracinha e a Maria Luiza
– Oi Jairinho.
Mesma entonação.
Sorri e me senti aquele mesmo menino, carregando a bandeira, ali no meio da rua marchando.
Chega de mesmo, mas, fazer o que – era eu mesmo, no meu passado.
Ninguém me tira essa viagem.
Fiquei por ali, subindo e descendo ao longo do desfile e daqueles alunos e professores, imaginando todos aqueles passados pela minha viagem, quando encontrei o San
– Oi, tudo bem?
Tudo. Tá vendo a meninada, bonito não? Somos nós, seu bobo! Pensei, mas não falei. Falamos de nossas coisas atemporais. Aí, ele lembrou-se de um outro desfile, quando fomos índios – eu, ele e o Zé Dias, num carro alegórico que falava de bandeirantes e conquistas. O Joaquinzão era o bandeirante. Acho que foi em sessenta e seis. Demos risadas, comentamos mais algumas coisas – Tchau e um abração.
O locutor anunciou a última escola, olhei a praça e andei.
Entre esses dois primeiros de abril, pouca coisa tenho a lembrar sobre desfiles – Uma imagem de duas motos do tiro de guerra abrindo caminho, naquele desfile de cinco de novembro de mil novecentos e setenta e um, aniversário de Itapetininga. A Lígia chorando, pois deixei-a sozinha e fui ver a banda tocar, desfile de sete de setembro, ela devia ter uns oito ou nove e nem desfilou.
Adivinhe o que a banda tocou?
Tenho, também, algumas fotos, uma do meu primeiro desfile, sessenta e cinco, tirada do cinema e mostra uma parte histórica da praça.
Está no Orkut e tem mais.
Andei, e pé ante pé, cheguei à casa da minha mãe já neste ano. Fui buscar o carro, entrei, almoço pronto, conversa vai, vem. Sempre a mesma coisa, tudo igual, disse a D. Cida.
Mãe, não é não, cada um sabe bem o seu significado e o que vai levar. Talvez uns dois ali vieram de dois mil e cinqüenta, vai saber.
Eu estava em setenta. Assim, me despedi, entrei no carro e sem carteira de habilitação saí para São Paulo, pois só tirei a carta aos dezenove.
Que estrada ruim, certeza de não estar no futuro, era a mesma buraqueira. Nessas minhas andanças, nunca mais vi um desfile, nem pela televisão. No cinema, só os soldados ingleses desfilando e assoviando ao som do Colonel Bogey, daí a relação. Desde quinta, estou indo e vindo nesses dois primeiros de abril, quarenta anos um do outro. São inseparáveis, fazem parte da minha vida e se completam. Naquele carregava a bandeira, neste olhava, sensação única de estar em dois lugares, menino e homem.
Naquele, queria ser o homem que sou. Neste, queria ser o menino que fui.
Hoje, ao som de..., adivinhem, quero ser os dois.
Ano que vem, não vejo a hora do desfile.
Jairo A. Costa Jr.
(Transcrito do blog "Chãomiguelense", de Paulo Manoel Silva Filho)
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