terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"DITINHA"

Penso que talvez ignores,
Singela e meiga Ditinha,
Que desta localidade
És a mais bela pretinha.
Se não fosse profanar-te,
Chamar-te-ia... francesinha!

Então, quando vais à reza,
Com o teu vestido de cassa,
Não há mesmo quem não fale,
Orgulho da minha raça:
– Olha que preta bonita
E que andar cheio de graça!...
Se às vezes sorrio, à esmo,
Não me tomes por caduco.
Com teu vulto nos meus olhos,
Ando como aquele turco
Que, doloroso destino,
Ao te ver, ficou maluco...
 
- Lino Guedes -

Poema que fazia parte do 
livro "O Canto do Cisne Preto", do autor, publicado em 1926.
Lino de Pinto Guedes nasceu na cidade de Socorro/sp em 24/06/1897.
Filho de ex-escravos, ao ficar órfão de pai foi justamente trabalhar sob as ordens do ex-dono dos seus pais, Olímpio Gonçalves dos Reis. 
Numa época em as escolas se negavam a aceitar alunos negros, conseguiu estudar e já aos 13 anos de idade começou a mostrar seus dons literários junto ao jornal "Cidade de Socorro".
De Socorro para Campinas e São Paulo, e à militância racial.
Faleceu em 1951.
Veja o que ele pensava a respeito da raça:
“O negro sempre é nobreza e dedicação”;
Ter 
orgulho racial seria imprescindível para o negro vencer na vida“.


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