sábado, 12 de dezembro de 2015

POEMA DE ADÉLIA PRADO


Há mulheres que dizem:
- Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.

Eu não.
A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar,
abrir,
retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil",
"prateou no ar dando rabanadas",
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:
- somos noivo e noiva.

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