terça-feira, 10 de setembro de 2013

A COLÔNIA ÁRABE E O CENTENÁRIO DE SÃO MIGUEL ARCANJO


"Quando durante o desfile de comemoração do centenário de São Miguel Arcanjo, no sábado se apresentou devidamente caracterizada a colônia árabe, o povo do Município teve a oportunidade de conhecer o trabalho que sírios e libaneses desenvolveram, desde que o primeiro levantino aportou àquela localidade, na região de Itapetininga.
A pequena São Miguel Arcanjo, conforme Azet Dib Miguel, um estudioso da região, recebeu o primeiro árabe, Miguel Nassar, em 1824 que decidiu residir no local, porque a denominação da cidade era a mesma do seu nome. 
Miguel trabalhava com um mascate, carregando nas mãos as suas malas que continham bugigangas para vender.
A adaptação ao novo lugar foi fácil, pois o clima era semelhante ao da região do Líbano e Nassar começou trabalhar estabelecendo-se com um "boteco", onde vendia de tudo, desde aguardente até carne seca. 
Em seguida trouxe seus dois filhos e mais tarde, gradativamente, vieram outros jovens, quase todos parentes, residentes em uma pobre aldeia no Líbano. 
Nomes como Brahin, Marlir, Salomão, Abdala, Abrão, Elias, Jorge, Abdula, Miguel, Daniel, Fauzi, Jabur, Féres, Calil, Constantino, Adib, Romeu, Duad, Nagib, Zacarias, Wady, Essú e muitos outros tornaram-se comuns na pequena cidade, onde mais da metade da população na década de 20 a 50 constituía-se de árabes e descendentes.
Denominada até recentemente a Beirute brasileira ou carinhosamente a "terra dos turcos", São Miguel teve seu primeiro sobrado construído por um libanês, enquanto que todo o comércio - tecidos, armazéns, ferragens, materiais de construção, açougue e bares - era dominado totalmente pela colônia. 
Os comerciantes financiavam em dinheiro quase a totalidade da lavoura do Município, que os fundamentava principalmente no algodão. 
E esse próprio algodão foi a causa da falência de todos os árabes de São Miguel, na década de 20, conforme esclarece o sociólogo Heil Abuázar. 
Quase todos analfabetos e pobres, esforçaram-se em aprender os rudimentos da escrita e da leitura e fazer as quatro operações, enquanto carregando malas com mercadorias, a pé ou em lombo de burros, adentravam o sertão. 
Lá vendiam produtos a sitiantes e caboclos, constituindo-se um elo entre a cidade e a zona rural. 
Todas as novidades e notícias eram levadas ao sertão pelos árabes embora as transmitissem com seu sotaque, as vezes incompreensível. 
Enfrentando as intempéries e correndo riscos de serem molestados por animais, os "mascates" como eram denominados, dormiam ao relento ou esteiras, se alimentavam mal e alguns deles eram acometidos de doenças.
Os" mascates" conseguiam mercadorias em São Paulo, na rua 25 de março, com "patrícios" e depois das viagens, que duravam até 30 dias, acertavam as contas. 
Em São Miguel Arcanjo, os árabes sempre conviveram pacificamente e em harmonia com os brasileiros do local e havia um estreitamento maior entre eles e as famílias Terra e França, descendentes dos fundadores da cidade. 
Participavam de todos os eventos sociais e colaboravam em todas as campanhas. 
O sino da igreja foi doado por um árabe, o cinema, construído na década de 50 e existente hoje, é um marco do arrojo libanês, enquanto 3 filhos de patrícios integraram a FEB e lutaram na 2ª Grande Guerra Mundial.
Desenvolveram atividades agrícolas, criando na época carneiros e búfalos e nos quintais de suas residências mantinham hortas bem formadas. 
Ensinaram os moradores de São Miguel a consumirem verduras e frutas em quantidade é até hoje várias famílias brasileiras sabem fazer quibe, esfiha, coalhada e queijo sírio, bem como outras comidas árabes.
Durante quase 10 anos de vivência em São Miguel, onde atualmente descendentes de árabes daquela cidade se destacam em outra localidades do Brasil, como médicos, dentistas, advogados, bacharéis, juízes de direito, promotores, funcionários públicos, industriais e comerciantes, jamais a Polícia registrou qualquer ato ilegal cometido por eles.
Ao final deste centenário, cuja comemoração teve início no último domingo 26 de março, encerrando-se no sábado, 1º de abril, São Miguel Arcanjo começa a sentir a influência de outras colônias que estão se estabelecendo: a japonesa e a italiana, esta proveniente de Jundiaí e dedicando-se inteiramente a plantação da uva tipo Itália.
- Do site da Família Shcaira -

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