quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PARÁGRAFO


Lembrava-me, outro dia, da penúltima eleição em São Miguel Arcanjo, quando os partidos locais trouxeram muitos candidatos novos de olho nas cadeiras da edilidade. 
Como agora, alguns deles apenas compareceram para possibilitar o preenchimento de percentual obrigatório na complementação das chapas. 
Mal politizados, não estavam apenas alheios aos reais problemas, mas também às eventuais potencialidades do município. 
Naquele ano, muitos candidatos ficaram surpresos em saber da existência de favelas na cidade, pois não tinham conhecimento disso. 
Muitos não sabiam como funcionava uma creche, nem qual o papel de uma Casa da Criança ou do Conselho Tutelar, muito menos o significado da tal de vaca mecânica e, por falar em vaca, nem sabiam onde ficava o matadouro público onde se matava o gado para a população comer. 
Quantas eram as Cohabs? 
Onde ficavam? 
Até quiseram saber sobre os centros de lazer e parques para crianças e adolescentes fora das escolas, inexistentes. 
Só então tomaram conhecimento que dois centros comunitários haviam sido invadidos por famílias carentes; num deles, inclusive, a posse era tão antiga que o casal ali residente já tinha até netos. 
Souberam da falta de recursos para as áreas de Assistência Social e Saúde, e das sobras para construção de quadras de esportes. 
Não ficaram sabendo sobre o paradeiro da banda marcial, que fora a menina dos olhos do então prefeito do PMDB. 
Questionaram, mas não obtiveram respostas sobre o galpão de agronegócios que o município ganhara do governo estadual; a imprensa local noticiara amplamente o fato. 
Também não ficaram sabendo sobre os restos mortais daquela famosa empresa, a Gallus, que ludibriou pessoas no país inteiro e aqui também acabou fazendo suas vítimas. 
Havia naquela época alguns candidatos que nem conheciam os bairros e até acabaram-se perdendo no caminho, não pela imensidão da área, mas pela ausência de sinalização e de placas indicativas. 
Pela primeira vez, alguns deles conheceram a APAE, visitaram o Asilo e o Curumim e até reconheceram que seria preciso ampliar esses estabelecimentos devido ao número cada vez maior de sãomiguelenses que necessitam desses serviços. 
Muitos desses candidatos confessaram a vontade de desistir da campanha, mas resistiram heroicamente, como se de repente uma centelha de amor pela causa pública lhes houvera brotado no peito pela causa pública. 
Vi candidatos novos estarrecidos e até indignados com a situação da população, de como se alicia chefes de famílias e adolescentes nos bares, nos becos, em pontos de tráfico de drogas e de supostas “recreações”. 
Alguns candidatos novos chegaram a presenciar o estado de prostração e de entreguismo em que se encontrava a camada mais vulnerável da população. 
Vi candidatos novos perturbados quando perceberam nos dias de comício na praça como as crianças de pés no chão aceitavam quaisquer balinhas que lhes eram jogadas pelos candidatos e cabos eleitorais que passeavam no meio do povão. 
E como os adolescentes agiam, despejando álcool goela abaixo, como se as garrafas fossem mamadeiras, trombando uns nos outros, bandeirolas nas mãos. 
Alguns desses candidatos novos eram mulheres que exclamavam: 
- “Fim de mundo!”. 
E aí? 
O prefeito que fosse eleito então deveria ter tido pulso firme para desinfetar todos os departamentos públicos. 
Hoje a gente só pede aos candidatos novos que, ao sentarem-se nas cadeiras estofadas da Câmara Municipal, aprendam a comportarem-se de forma civilizada perante os cidadãos e busquem batalhar pela moralidade na política, cobrando daqueles que saírem vitoriosos ao Executivo local a devolução de tudo o que foi tirado impunemente da população, tais como o auto-respeito, a auto-estima e a dignidade. 

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