quinta-feira, 9 de maio de 2013

"BRASIL CARINHOSO" E MARTHA DE NOVO!

A professor Martha de Freitas Azevedo Pannunzio, de 74 anos, é de Uberlância. 
Ela escreveu uma carta para a presidente Dilma que foi entregue em mãos. 
Vale a pena ler. 
É a voz de quem não se cala e não consente. 

BRASIL CARINHOSO
Bom dia, dona Dilma!
Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera 
do Dia das Mães. Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora 
de impostos escorchantes descontados na fonte no meu contracheque de 
professora aposentada da rede pública mineira e em cada Nota Fiscal 
Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio do B
RASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? 
Em ano de eleição municipalista?
Faça-me o favor, senhora presidentA! 
É preciso que o Brasil crie um 
mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos s
eus executivos (presidente da república, governador e prefeito) para 
que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil.
Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos 
entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular 
o convívio familiar destas pessoas, porque elas irão, com certeza, 
reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para engordar 
sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo 
para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, 
um plano quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, 
claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.
É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha, 
jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha 
(que se governa, no seu caso) irresponsavelmente.
Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora.
Sou bastante madura, bastante politizada, sobrevivente da ditadura 
militar e radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num 
petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT é raivosa e 
burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido, 
e delirante. Vocês são adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários, 
praticantes do bullying mais indecente da História do Brasil.
Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço 
espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática 
e moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são iguais perante 
a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta disposição, 
enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto 
seu modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, 
menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola.
A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre 
é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.
Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no 
tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro 
quente, para não deixar dúvida de que são mal-nascidos.
Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza, 
publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou 
num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de 
qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação.
Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter 
sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, 
empresarial, cultural e política do País. 
A Câmara Federal endoidou?
O Senado endoidou? 
O STJ endoidou? 
O ex-presidente e a atual 
presidentA endoidaram? 
Na década de 60 e 70 a gente lutou por 
uma escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. 
A senhora 
disse que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma?
Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País 
empreendedor, com uma grade curricular objetiva, com professores 
bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da carreira, felizes, 
é disto que o Brasil precisa. 
Para ontem. 
De ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. 
Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o 
aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, 
incapaz de localizar a oração principal de um período composto por 
coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe 
calcular juros. Não sabe o nome dos Estados nem de suas capitais.
Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. 
Não é capaz de 
fritar um ovo. 
O estudante e a estudantA brasileiros só servem para 
prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste.
Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não compreendem 
o que leram. 
Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. 
Acorde! 
Digo 
isto com conhecimento de causa porque domino o assunto. Fui a vida 
toda professora regente da escola pública mineira, por opção política 
e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus 
professores. 
A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é 
mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma 
o que estou informando.
Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se 
anunciasse apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento 
familiar a partir do seu exemplo, como mãe de uma única filha, e uma 
escola de um turno só, de doze horas. 
Não sabe como fazer isto? 
Eu 
ajudo. 
Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. 
Releia Anísio 
Teixeira. 
Releia tudo de Darcy Ribeiro. 
Revisite os governos gaúcho e 
fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel 
Brizola. 
Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, 
mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina.
A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola 
em tempo integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as 
camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com quatro refeições 
diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente.
Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, 
sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos 
alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de 
zero a seis, para estudantes de ensino fundamental e para os de 
ensino médio, em instalações individuais para um máximo de 
quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina 
de casa. De zero a dezessete anos. 
Dê um pulinho na Finlândia, 
dona Dilma. 
No aerolula dá pra chegar num piscar de olhos. 
Vá 
até lá ver como se gerencia a educação pública com responsabilidade 
e resultado. 
Enquanto os finlandeses amam a escola, os brasileiros a 
depredam. 
Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante.
Educação custa caro? 
Depende do ponto de vista de quem analisa.
Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita 
por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente.
Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, 
adoece menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos.
Vale a pena investir mais em educação do que em caridade, pelo 
menos assim penso eu, materialista convicta.
Antes que eu me esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar 
não tem nada a ver com controle de natalidade. Aliás, é a única medida 
capaz de evitar a legalização do controle de natalidade, que é uma 
medida indesejável, apesar de alguns países precisarem recorrer a 
ela. 
Uberlândia, inspirada na lei de Cascavel, Paraná, aprovou, em n
ovembro de 1.992, a lei do planejamento familiar. 
Nossa cidade 
foi a segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se ao 
SUS. 
Eu, vereadora à época, fui a autora da mesma e declaro isto 
sem nenhuma vaidade, apenas para a senhora saber com quem 
está falando.
Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço
pelo sucesso do seu governo como mulher e como cidadã. 
Mas a 
maior torcida é para que não lhe falte discernimento, saúde nem 
coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso.
A primeira chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda 
está muito ruim, precisado de muito amadurecimento e aprendizado.
O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio 
e a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.
Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente 
por isto não perco a sensatez. 
Deixe o Congresso pensar um pouco 
mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados 
e bem remunerados, para isto mesmo. E acautele-se durante o 
processo eleitoral que se aproxima. 
Pega mal quando um político 
usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada.
Outros usaram? 
E daí? 
A senhora não é os outros. 
A senhora á a 
senhora, eleita pelo povo brasileiro para ser a presidentA do 
Brasil, e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer.
Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. 
Sei disto, é claro.
Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães
excluídas do seu presente: as mães da classe média baixa, da classe 
média média, da classe média alta, e da classe dominante, sabe por 
quê? 
Porque somos nós, com marido ou sem marido, que, junto 
com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores 
de impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corte 
perdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base 
aliada oportunista e voraz.
A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários 
da Bolsa-família? 
Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar 
qualquer trabalho de carteira assinada, por medo de perder o benefício.
Estou firmemente convencida de que este novo programa, BRASIL 
CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda 
tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, 
sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar 
nenhum. 
E, o que é mais grave, com o excesso de propaganda 
institucional feita incessantemente pelo governo petista na última 
década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro, 
a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão 
todos os empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a 
informalidade. 
E aí os brasileiros e brasileira vão ficar chupando 
prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à 
delinquência e às drogas.
Quem cala, consente. 
Eu não me calo. 
Aos setenta e quatro anos, 
o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar 
da pancadaria de 1964. Isto não está sendo possível. 
Apesar de ter 
lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado 
milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos 
meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação 
que deu a todos a obrigação de votar e o direito de votar e ser 
votado, mas gostou da sacanagem de manter a maioria silenciosa 
no ostracismo social, alienada e desinteressada de enfrentar o 
desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o pão com o suor 
do seu rosto. 
Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão, 
pronto para depositar um voto na urna, a favor do político 
paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. 
Dar o peixe, ao invés 
de ensinar a pescar, esta foi a escolha de vocês.
A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para 
eu pagar. 
Vai.
Tomou esta decisão sem me consultar. 
Num país 
com taxa de crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, 
burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta 
e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça 
dos miseráveis. 
Vocês não chegaram ao poder agora. 
Já faz nove anos, 
pense bem! 
Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, 
o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais.
Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? 
Não refrescou 
niente? 
Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil 
miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo 
de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do 
BRASIL CARINHOSO. 
Quero fazer uma continha de multiplicar e 
outra de dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada 
de capital. Democracia é isto, minha cara. 
Transparência.
Não ofende. 
Não dói.
Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE.
Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora
de latim, francês e português. 
Por favor, corrija esta informação.
Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare
na Casa Civil ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora 
nunca saberá que desagradou alguém em algum lugar. 
Então 
vai pela internet. 
Com pessoas públicas a gente fala publicamente 
para que alguém, ciente, discorde ou concorde.
O contraditório é muito saudável.
Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. 
Até o nome me 
incomoda. R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem 
tem em casa uma criança de zero a seis anos, é uma esmolinha 
bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma?
Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento, 
no meu conceito, é uma campanha institucional a favor da vasectomia 
e da laqueadura em quem já produziu dois filhos. 
É mais creche 
institucional e laica. 
Mais escola pública e laica em tempo integral 
com quatro refeições diárias. 
É professor dentro da sala de aula, 
do laboratório, competente e bem remunerado. 
É ensino 
profissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.
Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer 
da corrupção escandalosa o meu assunto para esta catilinária.
Mas não. 
Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais 
grave, que é um desvio de conduta de líderes políticos desonestos, 
chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa 
ignara. 
Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e 
profundamente desonesto. 
Eles são ingênuos, pobres de espírito, 
analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como 
qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos.
Esta é a jogada. 
Suja.
A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social.
Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a 
população luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando 
oportunidade de trabalho. 
Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, 
a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de 
estímulo à vagabundagem. 
Estamos na contramão da História, dona Dilma!
Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência 
da minoria de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia 
para sustentar a máquina extraviada do governo petista.
Último lembrete: a pobreza é uma consequência da esmola. Corta 
a esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são quatro.
Não me leve a mal por este protesto público. 
Tenho obrigação de 
protestar, sabe por quê? 
Porque, de cada delírio seu, 
quem paga a conta sou eu.
Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa, Uberlândia,MG.

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