quinta-feira, 25 de julho de 2013

“OS TATUS”

- ‘Compadre, pra mórde o quê vosmecê tá cavocando esse buraco tão fundo assim?’ - perguntava um tatuzinho bonitinho ao seu companheiro de noitada de luar.
Noite clara, quando até a luz do vagalume se atrapalhava, não sabia onde lumiar, tudo estava claro...
- ‘Compadre’ - respondeu o que estava cavando – ‘Vosmecê não tá sabendo da festança da bichada lá pras bandas da Vila Véia? É, a gentarada de lá arresolveram ponhá uma candidataiada a vereadô que mais parece que tão preparando um fandango’.
Os tatus estavam deveras assustados e reclamavam.
- ‘Compadre, como é que nóis vamo atravessá a estrada pro outro lado, lá pro sujaréu pra baixo dos vassourais? Lá, numa noite como esta, nóis vamo encontrá bastante saúva pra comê’.
- ‘Não dá, não’ – respondia o outro.
- ‘Mecê já viu a carraiada que tá passando na estrada? Tem daqueles carrinho, aqueles da bundinha quente que os bicho homem chamam de ‘fusca’, passando a cada minuto’.
- ‘Deus me livre! Atravessá a estrada num tempo deste, não dá. Aqueles político do lado do tal de Zé e do tal de Zá parece inté que vão tirá a sorte na tar da Sena...Tão loco! A vereadorzada do lado deles tão sem miolo na cabeça. Imagine que são quarenta e cinco do lado do Zé e quarenta e dois do lado do Zá. Vão acabá um trepando em riba do outro’...
- ‘Nóis não vamo atravessá a estrada senão eles acabam trepando na nossa carcaça e ela não guenta o peso’.
- ‘Compadre, no preço que tá a tar gasolina, mecê já carculô o quanto eles vão gastá?’
- ‘ Mecê já viu falá num tar de Gigio? Mecê sabe que tem um bichinho na televisão parecido com um ratinho branco que a turma chama de ‘Topo Gigio’? Pois é! Esse tar tamém dizem que é candidato a Prefeito’.
- ‘ O ratinho, compadre?’ 
- ‘Não, o tar é aquele que fica brabo quando vê gente caçando nóis no sitião que ele tem aqui mesmo pertinho da cidade. A turma dele diz que são dum tar de PT, que quer dizê Partido dos Trabaiador’.
- ‘Isso é engraçado, não é, compadre? Parece que ninguém mais qué sabê de trabaiá...’ 
- ‘Compadre, se eu fosse leitor, eu votava neles. Pelo menos são gente mais pobre. Tem gente legar lá. Tem o Miguer Terra, tem o Morto, tem o Marcão, tem o Gê do Gigio, uma gentarada sem orguio nenhum’.
- ‘Compadre, mecê cave um buraco bem fundo a par do seu que eu quero entrá aí. Esse negócio da turma dizê: ‘eu não sô tatu’ não tá certo. Eu vô querê entrá no buraco quando hové o resurtado das eleição. Vai sê uma rojãoada que vai sê um inferno’.
- ‘Coitado de quem perdê, Tião compadre!’
- ‘ Hei, até mecê já deu pra sê estrangero, dizendo esse tar de Tião?
- ‘Intão, inté a próxima, como diz o Miguer Terra’. 

(O texto acima foi escrito por Gijo Válio, meu pai, sob o pseudônimo de Rizadinha)

Pois é, meu pai, n
estas últimas eleições, aconteceu tudo igual e de novo em nossa terrinha.
Só que botaram gente de cabeça tão fraca, mas tão fraca, de miolo mole, mas tão mole, que a cidade corre o risco de sumir de vez do mapa do Brasil.
Vamos ter que virar tatu - e tatu que goste de cachaça - para sobreviver por aqui. 
Barbaridade, né?

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