terça-feira, 16 de julho de 2013

"ECOS DAS FAZENDAS"

Conheci o extinto jornal denominado "A Terra Livre" através do Apesp.
Sua redação localizava-se à Rua Santa Cruz da Figueira, número 1, em São Paulo, e era administrado por Edgard Leuenroth.
Não deve existir mais há muito tempo.
Folheando o número 3, editado em 7 de fevereiro de 1.906, foi possível resgatar uma página sobre a história da sociedade brasileira, principalmente acerca do operariado.
Vejam só isto:

ECOS DAS FAZENDAS
"Companheiros...
Contai em Terra Livre como aqui somos maltratados diariamente por estes ferozes patrões que mostram o seu contentamento pelo nosso trabalho prometendo espancar-nos, tratando-nos mal e pagando-nos pior.
Não podemos visitar-nos uns aos outros porque quando nos veem em grupo de dois ou três, parece-lhes que queremos fugir da fazenda; e por isso somos seguidos de dia e de noite pelos capangas.
A vida que passamos nas fazendas é trabalhar desde as quatro da madrugada até às sete ou mais da noite.
Quando são as 4 da madrugada, toca a sineta e, se não vamos depressa, começam as pancadas na porta com o cabo do chicote.
A fazenda onde estamos corresponde ao nome de Guatapará; o dono que conhecemos é um assassino que governa em nome do fazendeiro; é o administrador José Sartori, o único homem de quem posso afirmar com segurança que é um grande canalha.
Nesta fazenda, somos tratados pior do que antigamente na Espanha os mártires da Inquisição.
Não tem compaixão de nossos filhos nus e mortos de fome, nem de nossas mulheres, não  acostumadas a estes trabalhos, não querendo vê-las em casa e não se importando que as crianças morram por falta de cuidados.
Quanto ao cônsul espanhol, não quererá decerto saber de seus compatriotas.
O tronco e o chicote continuam a funcionar; a escravidão vigora sempre.
Guatapará, 22 - 1 - 1.906
A. B. 

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