Teresa...
Hoje com os olhos de observação caminhei pelas ruas da nossa cidade. Aquela mesma vila do passado a qual acolheu você na flor dos seus treze para quatorze anos, cheia de sonhos de menina-mulher, na busca de si mesma ou na conquista de um lugar ao sol onde pudesse colocar em algum canto da vida a bagagem de esperança e os anseios de futuro.
Tristemente, Teresa... a cidade já não é mesma. Não é a minha e nem aquele que um dia foi sua. Não há como encontrar num pedaço de rua coisas que falem da trajetória da gente, ou mesmo da nossa vida feita de retalhos coloridos de esperança. A cidade cresceu e perdeu o seu encanto!
Passei pelo pedaço de rua onde no ontem distante, onde o menino sonhador lhe ofereceu uma rosa vermelha. E com tanta dor, senti a rósea flor do coração quedar-se muda no peito numa dor lacônica por não existir nos quadrantes daquela via uma só janela aberta como testemunha da minha solidão. Todos estavam mergulhados nas imagens fantasmagórica da TV. Nem mais flores havia nas janelas. Naquele nosso tempo, a gente mesmo desenhava na mente nossos heróis e nossos fantasmas sem que introjetassem à força aquilo que o mundo eletrônico dita para viver no dia à dia.
Lembra-se da rua onde você descia com suas amigas em doces sorrisos sem pensar no amanhã? O progresso cobriu os rastros do passado e o manto negro do asfalto envolveu o pouco que ainda restava da ternura da rua antiga coberta de pó, onde o vento levantava nuvem de poeira e com ele levava nossos sonhos para o alto. Sonhos que talvez nunca fossem realizados, mas que não deixava de ser sonho e isso nos valia muito. A minha cidade hoje é arremedo de um centro urbano que não vingou. Não sei se por romantismo ou saudade, mas eu preferia a nossa cidade de ontem, onde nós nos conhecíamos e a simplicidade andava de mãos dadas.
Num instante lembrei-me de uma antiga tarde de carnaval de outrora. Uma ciranda feliz a nos entreter animadamente nos salões do clube. Éramos o que éramos. Brincávamos ao som de uma marcha rancho, já com um quê de saudade, porque a felicidade era feita daquele momento. Não havia no nosso carnaval de antigamente as exuberantes meninas temporãs, as quais desde muito cedo aprenderam a valorizar a sinuosidade do corpo e esvaziar a cabeça. Cantávamos a marcha de todos os anos sempre quando o carnaval chegava. Por força dessa magia carnavalesca desafivelávamos as máscaras do rosto para expormos sentimentos, muitos até então, segredos guardados nos recônditos da alma. Isso também não existe mais. No lugar do enlevo da busca daquilo que se ocultava no misterioso olhar da columbina, disputa-se hoje quem beija mais e quem bebe muito incondicionalmente, independente de idade e de sexo. Quem beija muito perde o amor, já dizia um poeta amigo meu.
Sabe Teresa, hoje eu passei pela frente da casa que era sua. Não há mais como, em noites de luar, chorar nas cordas curtidas de um violão plangente os queixumes do peito. Quando a noite desce, o burburinho toma conta do centro, que não é mais a mesma praça romântica do nosso tempo e tudo então acontece. Do festival de palavrões, ao quebra-quebra de garrafas de cerveja. Garotos e garotas perambulando à esmo, sem objetivo que não seja o de vandalizar e sem opção de chegar a lugar nenhum, incertos sem saberem para onde ir.
Pois é... hoje estive de volta à nossa terra e descobri que o mundo azul, o universo do nosso tempo continua apenas dentro de nós e por mais que contemos o tempo nas contas de um rosário de dias, ele vai estar permanentemente no nosso coração porque a juventude jamais envelhece dentro de nós. É a essência que levamos conosco como passaporte para o outro lado, como que vistado e carimbado pelas nossas emoções mais caras. Descobri, com certa angústia, mais do que nunca, andando pelas ruas da nossa cidade que a saudade ainda precisa de todos os poetas.
Orlando Pinheiro
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