quinta-feira, 16 de março de 2017

HOMENAGEM AO COMENDADOR DANTE CARRARO

O trigo que se importava no Brasil, no início do século XX, era proveniente da Argentina e dos Estados Unidos.
Em 1.910, uma herdade experimental se estabeleceu na região de Itapetininga, que até andou contratando um técnico norte-americano para dirigir os trabalhos.
Conforme nota da imprensa da época, no ano de 1.929, São Miguel Arcanjo surgia, ao lado de municípios como Itapetininga, Buri e Capão Bonito como dos principais cultivadores de trigo no Estado de São Paulo.
Com o tempo, porém, a cultura do trigo foi sendo abandonada em terras paulistas, deixando essa atividade para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso.
É que ninguém acreditava que as terras e o clima de São Paulo fossem bons o bastante para manter a lavoura sem prejuízos.
Na década de 40, surgiu por aqui um italiano nascido no dia 16 de fevereiro de 1.898 na cidade de Grandolfo, vizinhanças de Veneza.
Chamava-se Dante Carraro e logo que formou-se na Universidade de Pádua como Engenheiro Mecânico, foi trabalhar numa indústria da família, a S/A Motores Marítimos Carraro.
Por muitos anos venceu corridas motonáuticas em cooperação com os famosos estaleiros Baglietto, batendo diversos recordes mundiais da época.
Quando veio para o Brasil em 1.920, iniciou em São Paulo a construção de uma máquina para fazer tubos de concreto automática, inédita na América do Sul; fundava, assim, a Indústria Nacional de Artefatos de Cimento S/A, produzindo tubulações para saneamento básico.
Em 1.936, associou-se ao sogro Alberto Ferrabino, o qual já possuía a Fiação Progresso, idealizando a fabricação de tapetes, aproveitando os fios de pura lã.
O sucesso foi muito grande e a família continuou a importar teares da Alemanha, num total de cinco. Nesse meio tempo, a fábrica de máquinas têxteis alemã foi destruída pelos americanos.
Com suas habilidades em mecânica, montou uma oficina e reproduziu mais cinquenta e cinco teares. Foi então que a Indústria de Tapetes Atlântida S/A tornou-se a maior no ramo da América latina.
Seu hobby era caçar aves.
Dante Carraro acabou conhecendo São Miguel Arcanjo, detentora de imensa área de mata atlântica e muitos animais e aves nativos. Tanto perambulou por aqui que, numa dessas viagens recreativas, mais precisamente no ano de 1.941, acabou comprando a Fazenda do Moinho, antes pertencente ao Tenente Urias Emigdio Nogueira de Barros, no Bairro homônimo, a qual passou a denominar-se Fazenda Atlântida, ou melhor, Fazenda de Trigo Atlântida S/A, com dois mil alqueires; nela, iniciou o plantio de tungui, uma espécie de coquinho de onde era retirado o óleo para posteriormente fabricar verniz, mas não deu certo.
Já Comendador, contratou uma série de técnicos italianos, empenhando-se nos testes para plantio de trigo. Chegou a plantar, certa feita, seiscentos alqueires, obtendo a mesma produção da Argentina e do Uruguai, segundo o seu filho Arnaldo Carraro.
Nessa época, Dante já sabia da história do Tenente Urias; através do Instituto Geográfico do Brasil, tomou conhecimento da grande audácia desse brasileiro que, ao receber terras das mãos de Dom Pedro II, nelas plantou um pequeno trigal.
Com o apoio do Presidente da República Getúlio Vargas e do Governador do Estado Ademar de Barros, que muito o admiravam, Dante dispôs-se a associar-se com os grupos italianos fabricantes de tratores Landini e de moinhos de trigo Utita, para dar ao Brasil a independência do trigo. 
Pretendia transformar a sua fazenda localizada em solo são-miguelense numa Escola Agrícola.
Continuando a produzir teares, no ano de 1.945 fundou mais uma fábrica de tapetes na Argentina, a indústria Alfombras Atlântida S/A. 
No ano seguinte fundou também em São Paulo uma indústria de produtos farmacêuticos, a Quimiatra S/A, adquirindo tecnologia do grupo Lafi italiano.
No ano de 1.947, Dante plantou 40 alqueires de trigo. Em 1.948, foram 120 alqueires. Durante a colheita deste trigo, o governador Ademar de Barros visitou o fazendeiro para conhecer seu produto, pois o seu nome já começava a despontar como um grande empreendedor.
No ano seguinte, mais de 300 alqueires de trigo foram plantados em terras são - miguelenses, o que já começava a gerar certo ciúme entre os argentinos, que sempre quiseram estar no topo da produção.
A última safra de trigo, a de 1.949, porém, Dante não viu, pois veio a sofrer acidente de avião e em consequência falecendo, quando voltava para a capital, onde morava na Rua Voluntários da Pátria, número 596.
Teve gente que apostou em alguma sabotagem dos argentinos, mas o caso não foi adiante.
Dois anos depois, a família do Comendador resolveu homenagear o herói e, às suas expensas, mandou construir um monumento que o município aceitou que se colocasse na Praça da Bandeira, hoje Antonio Ferreira Leme.
De bronze, permanece no canteiro central da praça e é respeitado até hoje pela população local. 
 
 

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