Sou de um tempo em que os dias da semana, os meses do ano e os anos passavam mansa e vagarosamente e as pessoas tinham mais tempo para si mesmas e para seus familiares.
Sabe por que?
Porque não havia tanta festa, tanta comemoração, tanta efeméride, e, por trás disso, tanto subterfúgio para não cumprir mais o papel de pai, de cidadão, de brasileiro.
O carnaval só acontecia uma vez ao ano e todos participavam como bem queriam, em blocos ou sozinhos, fantasiados ou não; hoje, faz-se carnaval em qualquer lugar para chamar de "carnaval fora de época", pura comercialização de bebidas alcoólicas e até mesmo para que o ilícito seja permitido.
As festas juninas aconteciam nas quermesses religiosas com a finalidade de arrecadar fundos para as igrejas, ou nas escolas, para que pudessem ampliar o auxílio aos alunos menos favorecidos; hoje, inventaram até de prorrogar para julho e agosto, este como o mês do folclore, onde se come e se bebe tudo de novo: o quentão, a garapa, os salgadinhos, os bolos de fubá, o vinho quente e outras tantas guloseimas à base do milho, ditas "culturais".
E o povo católico que cultua todos os santos, quanta festa!
Pois não é?
Cada comunidade vive sob a proteção de um santo e, em nome desse santo, o pastor exorta o povo a orar a Deus de um lado e, por outro lado, premia o inferno, abastecendo-o com a venda de álcool; depois que terminam essas festas profanas, geralmente há desgraça nos lares.
E a massa é levada daqui para lá, de lá para cá novamente e o mundo vai girando e só girando a cabeça da massa que então entorna os miolos, o caldo, a vida e, afinal, cai num torpor sem nenhuma consistência.
Sou de um tempo em que o lar era governado pelo pai e pela mãe, aliás, pelo olhar deles, pela maneira como eles tocavam nos filhos sem tocar, pela luta que encetavam diariamente para que o futuro não viesse tão duro e os exemplos fossem copiados.
Hoje, não há mais separação de classes quando se fala da vida em domicílio. Vive-se em casas onde crianças gritam e quebram tudo, adolescentes vegetam trancafiados junto a um computador, mãe vai para a rua a fim de "viver a vida", pai bebe e fofoca em mesa de bar.
Como é que está a sua casa hoje?
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