quarta-feira, 17 de agosto de 2016

MEU ANTIGO "OFFICE-BOY"

Uma das empresas que mais me satisfez quando residi em São Paulo, e através da qual introduzi-me no ramo imobiliário, foi a Imobiliária Sucar.
Nela, tive alguns office-boys que se tornaram inesquecíveis para mim.
Um deles, o George Grunupp Filho, filho caçula do casal George Grunupp e Liezelotte Von Sonden, vindos lá de São Petersburgo, na Rússia, no ano de 1.951; tinha uma irmã atriz famosa, a Elke (Georgina) Maravilha e nessa época ele morava com a mãe e o irmão mais velho num edifício antigo e feio da Avenida Paulista, pertinho do Conjunto Nacional.
Conheci a Elke quando fui ao apartamento da família por ocasião do aniversário desse irmão mais velho de George.
Sem pintura, Elke era irreconhecível. 
Sempre amável, de fala mansa, discreta, sorridente, Elke era a simpatia em pessoa.
Nesse dia, ela presenteou o rapaz com um belo anel, conversou bastante tempo com o grupo, depois com a mãe, e despediu-se.
George era divertido, alegre, brincalhão, mas respeitoso, tipo dessas pessoas prestativas que, quando a gente pensa que estão indo, já estão voltando.
Fazia quase todo o serviço externo a pé, preferindo guardar o dinheiro da passagem para uns joguinhos.
Uma coisa que me marcou foi quando um dia ele, antes de sair para o "trampo" me presenteou com alguns dadinhos - de cacau - que sabia que eu gostava muito.
Comi vários deles.
Lá pelas duas da tarde, no banheiro, ao fazer o número um, percebi que estava completamente azul; de um azul tão clarinho que era até bonito de se ver.
Meia hora depois, voltei ao banheiro. E depois, e depois...
Tudo azul!
Tudo igual!
Horrorizei-me, tentando relembrar o que eu havia comido nesse dia.
- Morrer não vou, pensava. O xixi está azul, mas tão limpinho...
O pessoal já apreensivo comigo.
Éramos uma família!
Lá pelas quatro da tarde, todo mundo já tomara conhecimento do meu problema.
O contador, o saudoso Antonio Vizzone ( teve uma cantina pertinho da Avenida Faria Lima), o outro contador, Nicolau Trandafilov, o auxiliar contábil Pistori, a copeira dona Matilde, a faxineira, a telefonista e até alguns clientes por ali, preocupados comigo.
Eu desesperava-me.
Um dos diretores ainda tentou ver se eu queria ir para um médico, que ele levava.
Um suplício!
Mas no fundo, de repente, alguma coisa foi voltando a minha lembrança: os dadinhos do George!
Será?
Desconhecia isso!
Eis que lá pelas 17:15h - saíamos às 18 h - chegava o rapaz, sorrindo, os longos cabelos louros empastados de suor, com todos os encargos externos, sua missão cumprida naquele dia.
Viu meu desespero e de todo o pessoal.
Assustou-se, mas me chamou de lado e disse:
- Você lembra dos dadinhos que eu lhe dei? Comprei na casa de mágicas no Shopping Iguatemy...
Só não bati nele porque gostava muito do menino.


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