quarta-feira, 21 de setembro de 2016

GETÚLIO VARGAS FOI MEMBRO DA ABL. QUEM IMAGINARIA ISSO?



Em 1941, um grupo de acadêmicos patrocinou a admissão de Getúlio Vargas na Academia Brasileira de Letras. A eleição foi tranquila mas o eleito só tomou posse, recebido pelo ministro Ataulfo de Paiva, em 29 de dezembro de 1943.
A obra literária do presidente compreendia apenas alguns discursos de natureza política em sua maior parte, que vieram a ser reunidos, muitos sem autoria definida, em A Nova Política do Brasil.
No seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Getúlio Vargas confessou honestamente suas limitações no campo da literatura:
------------- “A atividade intelectual é para mim uma imposição da vida política, que exige de quem a ela se consagra a obrigação de comunicar-se com o público com precisão e clareza, explicando ideias e problemas de governo, esforçando-se para fazer-se ouvir e compreender.”
Abaixo, a carta de agradecimento pelo convite e a aceitação para concorrer.
 



Abaixo, o testamento antes do suicídio.

CARTA TESTAMENTO
Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo condenaram-me novamente, e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. 
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. 
Sigo o destino que me é imposto. 
Depois de decênios, de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. 
Iniciei o trabalho de liberação e instaurei o regime de liberdade social. 
Tive de renunciar. 
Voltei ao governo nos braços do povo. 
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. 
A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. 
Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. 
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação de avoluma. 
A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. 
Não querem que o trabalhador seja livre. 
Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. 
Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. 
Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de cem milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. 
Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. 
Se as aves de rapina querem um sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. 
Escolho este meio de estar sempre convosco. 
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. 
Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. 
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. 
Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. 
Cada gota de meu sangue será uma chamada imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. 
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. 
Era escravo do povo e hoje me liberto para vida eterna. 
Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. 
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. 
Lutei contra a espoliação do povo. 
Tenho lutado de peito aberto. 
O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. 
Eu vos dei a minha vida. 
Agora ofereço a minha morte. 
Nada receio. 
Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
 
 (Diário de Notícias, 24 de agosto de 1954)

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