sexta-feira, 2 de março de 2012

O TRIGO E A HOMENAGEM A DANTE CARRARO.



O trigo que se importava no Brasil, no início do século XX, era proveniente da Argentina e dos Estados Unidos. 

Em 1.910, uma herdade experimental se estabeleceu na região de Itapetininga, que até andou contratando um técnico norte-americano para dirigir os trabalhos. 
Conforme nota da imprensa da época, no ano de 1.929, São Miguel Arcanjo surgia, ao lado de municípios como Itapetininga, Buri e Capão Bonito como os principais cultivadores de trigo do Estado de São Paulo. 
Com o tempo, porém, a cultura do trigo foi sendo abandonada em terras paulistas, deixando essa atividade para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. 
É que ninguém acreditava que as terras e o clima de São Paulo fossem bons o bastante para manter a lavoura sem prejuízos. 
Na década de 40, surgiu por aqui um italiano nascido no dia 16 de fevereiro de 1.898 na cidade de Grandolfo, vizinhanças de Veneza. 
Chamava-se Dante Carraro e logo que formou-se na Universidade de Pádua como Engenheiro Mecânico, foi trabalhar numa indústria da família, a S/A Motores Marítimos Carraro. 
Por muitos anos venceu corridas motonáuticas em cooperação com os famosos estaleiros Baglietto, batendo diversos recordes mundiais da época. 
Quando veio para o Brasil em 1.920, iniciou em São Paulo a construção de uma máquina para fazer tubos de concreto automática, inédita na América do Sul; fundava, assim, a Indústria Nacional de Artefatos de Cimento S/A, produzindo tubulações para saneamento básico. 
Em 1.936, associou-se ao sogro Alberto Ferrabino, o qual já possuía a Fiação Progresso, idealizando a fabricação de tapetes, aproveitando os fios de pura lã. 
O sucesso foi muito grande e a família continuou a importar teares da Alemanha, num total de cinco. Nesse meio tempo, a fábrica de máquinas têxteis alemã foi destruída pelos americanos. 
Com suas habilidades em mecânica, montou uma oficina e reproduziu mais cinqüenta e cinco teares. Foi então que a Indústria de Tapetes Atlântida S/A tornou-se a maior no ramo da América latina. 
Seu hobby era caçar aves. 
Acabou conhecendo São Miguel Arcanjo, detentora de imensa área de mata atlântica e muitos animais e aves nativos. 
Tanto perambulou por aqui que, numa dessas viagens recreativas, mais precisamente no ano de 1.941, acabou comprando a Fazenda do Moinho, antes pertencente ao Tenente Urias, no Bairro homônimo, a qual passou a denominar-se Fazenda Atlântida, ou melhor, Fazenda de Trigo Atlântida S/A, com dois mil alqueires; nela, iniciou o plantio de tungui, uma espécie de coquinho de onde era retirado o óleo para posteriormente fabricar verniz, mas não deu certo. 
Contratando uma série de técnicos italianos, empenhou-se nos testes para plantio de trigo chegando a plantar, certa feita, seiscentos alqueires, obtendo a mesma produção da Argentina e do Uruguai, segundo o seu filho Arnaldo Carraro. 
Nessa época, Dante já sabia da história do Tenente Urias; através do Instituto Geográfico do Brasil, tomou conhecimento da grande audácia desse brasileiro que, ao receber terras das mãos de Dom Pedro II, nelas plantou um pequeno trigal. 
Com o apoio do Presidente da República Getúlio Vargas e do Governador do Estado Ademar de Barros, que muito o admiravam, dispôs-se a associar-se com os grupos italianos fabricantes de tratores Landini e de moinhos de trigo Utita, para dar ao Brasil a independência do trigo. Pretendia também transformar a sua fazenda localizada em solo são-miguelense numa Escola Agrícola. 
Continuando a produzir teares, no ano de 1.945 fundou mais uma fábrica de tapetes na Argentina, a indústria Alfombras Atlântida S/A. No ano seguinte fundou também em São Paulo uma indústria de produtos farmacêuticos, a Quimiatra S/A, adquirindo tecnologia do grupo Lafi italiano. 
No ano de 1.947, Dante plantou 40 alqueires de trigo. Em 1.948, foram 120 alqueires. 
Durante a colheita deste trigo, o governador Ademar de Barros visitou o fazendeiro para conhecer seu produto, pois o seu nome já começava a despontar como um grande empreendedor. 
No ano seguinte, mais de 300 alqueires de trigo foram plantados em terras são-miguelenses, o que já começava a gerar certo ciúme entre os argentinos, que sempre quiseram estar no topo da produção. 
A última safra de trigo, a de 1.949, porém, Dante não viu, pois veio a sofrer acidente de avião e em conseqüência falecendo, quando voltava para a capital, onde morava na Rua Voluntários da Pátria, número 596. 
Teve gente que apostou em alguma sabotagem dos argentinos, mas o caso não foi adiante. 
Dois anos depois São Miguel resolveu homenagear seu herói, mandando construir um monumento na Praça Antonio Ferreira Leme, de bronze, o qual parece ser um dos únicos até hoje respeitados. 
O livro abaixo intitulado "O Trigo no Sul do Brasil", de Edgar Fernandes Teixeira, que conta um pouco a história do Comendador, foi um presente que recebemos do Colégio Estadual "Nestor Fogaça". 
Trata-se de uma doação feita ao mesmo pela Casa da Agricultura de Itapetininga em 14 de outubro de 1.975.
Resgate nosso.





2 comentários:

Unknown disse...

Adorei sua historia, onde acabei conhecendo o fundador do Tapetes Atlantida ITA, pois meu marido trabalhou na ITA de Carapicuiba.

Leandro Silva disse...

Não sabia desta história. Morei tantos anos vizinho praticamente da antiga ITA, conheço a avenida Comendador Dante Carraro mas não sabias dessa bela história. Obrigado pela informação.