sábado, 23 de fevereiro de 2013

LEMBRANÇAS DO CAPITÃO.




Nós nos conhecemos cerca de uns quinze anos atrás, em São Miguel Arcanjo.
Foi justamente quando eles ficaram sabendo que na cidade haviam montado um Museu, o Museu da Associação Casa do Sertanista de São Miguel Arcanjo e resolveram fazer-nos uma visita.
Por eles fomos presenteados com uma toalha de rendas branca, muito linda, um avental feminino também de rendas na mesma cor e um sinete que guardara por muito tempo como lembrança dos seus antigos patrões.
Pai e filha, chamavam-se Capitão Aparecido e Sarah Gatty; não ficamos sabendo seus nomes completos, mas a convivência com ambos era muito rica.
Ele, um senhor já aposentado, muito culto e educado. 
Ela, uma garota encantadora, nos seus dezesseis para dezessete anos. 
Ambos, de uma fineza de comportamento ímpar.
Dizia o Capitão e provava com fotos e narrações, que, antes de ser Capitão, fora empregado e tratado pelos antigos patrões e seus descendentes quase como um membro de uma famosa família, a família do Conde de Prates. Essa família fora proprietária de muitos imóveis; um deles, a famosa Fazenda Santa Gertrudes, onde o cenário era maravilhoso sendo até locado para se fazer as conhecidas novelas da TV "Esperança" e "A Escrava Isaura". 
O Capitão e sua filha residiram durante algum tempo no Bairro de Guararema e depois na cidade, a dois quarteirões de nossa casa.
Muitas vezes nos encontramos para um café e ficávamos por horas a debater sobre assuntos polêmicos da política e da vida social brasileiras.
Um dia, Sarah Gatty ficou doente; teve que fazer uma operação muito delicada.
Depois disso, ainda nos vimos algumas vezes muito rapidamente na Biblioteca local e tomamos conhecimento de que estavam vendendo o imóvel em que moravam.
Querendo mostrar-lhes uma publicação que vira numa revista, segui até à casa deles, mas já não estavam lá. 
Vizinhos disseram que haviam vendido a casa sem deixar o novo endereço. 
Uma grande decepção!
Não que as pessoas devam dar satisfação de seus atos a ninguém, mesmo que sejam aos grandes amigos.
Mas que foi decepcionante, foi.  

Quem foi o Conde de Prates?
É através do site da própria Fazenda Santa Gertrudes que traçamos uma pequena biografia do Conde.
Filho de Fidêncio Nepomuceno Prates e de Inocência da Silva Prates ( filha do Barão de Antonina), ele nasceu em São Paulo aos 8 de novembro de 1860 e desde muito cedo dedicou-se à vida comercial, conseguindo grande êxito na agricultura e pecuária.
Casou-se com Antônia dos Santos Silva, filha do Barão de Itapetininga e da Baronesa de Tatuí, família das mais nobres e honrosas tradições brasileiras.
Possuidor de fartos recursos advindos de atividades como banqueiro, capitalista, comerciante e lavrador, tinha como suprema aspiração socorrer àqueles que se valiam de sua desmedida generosidade.
Membro da 1ª Comissão Fundadora da nova Sé Catedral Metropolitana de São Paulo em 1912, recebeu o título de grande benemérito. 
Por longos anos foi Grande Protetor do Orfanato Cristóvão Colombo e por outros longos anos Mordomo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Do Convento de Nossa Senhora da Luz, foi, por largo espaço, Síndico e Protetor. 
Foi também Grande Benemérito da Casa da Divina Providência e Provedor e Protetor da Igreja de Santo Antônio, da Praça do Patriarca.
No Liceu Coração de Jesus ele também legou sua benemerência. 
Para os Salesianos de São Paulo, ele foi o grande pai.
Os sinos do campanário do Santuário do Sagrado Coração de Jesus foram doados por ele.
Foi Provedor da Irmandade de Nosso Senhor dos Passos e Irmão do Santíssimo da Sé Catedral de São Paulo.
Dele, o Título de Comendador Locotenente da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. 
Fundador e Presidente do Banco de São Paulo.
Fundador e 1º Presidente da Sociedade Rural Brasileira.
A Companhia Paulista de Estradas de Ferro teve-o por muitos anos como seu Vice-Presidente e Diretor.
Fundou e foi Presidente da Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo e de muitas outras empresas, tais como, a Companhia de Minerais Santa Rosa, a Companhia Pastoril de Barretos, a Companhia Paulista de Navegação e a Associação Comercial. 
Em 1911, foi fundador e 1º Presidente da Sociedade Hípica Paulista.
Proprietário da Fazenda de Santa Gertrudes, era para lá que se retirava ao encontro de momentos de lazer em meio à poesia e à solidão dos lagos, das árvores, dos pomares e de seus cafezais. 
Hoje aquela bela e tradicional propriedade pertence ao Conde e Condessa Guilherme de Prates e hospeda figuras ilustres e personalidades da mais alta expressão mundial.
De seu consórcio com a Condessa de Prates deixou quatro filhos: Conde Guilherme Prates, Eduardo dos Santos Prates e Joaquim dos Santos Prates e dr. José Prates, já falecidos.
A 22 de março de 1928, São Paulo despedia-se de seu grande benfeitor.
Quer conhecer a Fazenda?

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