
A obra seria, antes de mais nada, "expressão do sentido de pertencimento e do compromisso intelectual da autora com a comunidade de seus ancestrais, matrizes de sua inspiração e protagonistas desta história".
Nicolau Sevcenko, da Universidade de São Paulo, prefacia a obra, formulando frases que podem sugerir concepções altamente questionáveis: os imigrantes galegas que vieram para o Brasil após a Guerra seriam "rurais" demais, "atrasados" demais, "desorganizados" demais e "autodeterminados" de menos.
A autora estudaria "uma coletividade de seres humanos vulneráveis e sensíveis, assinalada por atitudes e destinos díspares".
Na sua própria Introdução, Elena Pájaro Peres, após expor os motivos do seu trabalho - o de compreender o movimento imigratório galego para São Paulo em meados do século XX salientou a falta de necessária consideração da diversidade sócio-cultural da Espanha e as incongruências entre visões encontradas na literatura e aquelas constatadas em relatos de imigrantes.
O que buscou foi não colecionar depoimentos, "mas sim interagir com essas lembranças, interpretando-as e tentando inseri-las no contexto em que foram produzidas e ao qual se referem".
No primeiro capítulo, a autora trata de dois ítens: "Momento de Euforia: Rumo ao Brasil do Futuro" e "Proverbial Hospitalidade? A Política Imigratória Brasileira e os Discursos sobre o Imigrante".
No segundo capítulo, dedica-se aos temas "Uma Mescla Perturbadora: Escassez e Ânsia por Consumir, Fixidez e Desejo de Mobilidade" e "O Esgarçamento do Mundo Rural Galego". No terceiro capítulo, dois são os pontos tratados: "A Experiência do Deslocamento" e "Fragmentos do Cotidiano Galego em São Paulo". No quarto capítulo, a autora considera os temas "O Desejo da Ordem: Associações Espanholas em São Paulo" e "Imigração e Projetos Políticos Nacionais: A Construção da Diáspora Galega".
"A galeguidade oficial termina por contar a história da emigração galega em seu sentido inverso, buscando entusiasticamente reverter a dispersão e aglutinar os erradios (...) o sexto elemento, o estranho, o que não se encaixa, o divergente sempre vem para intrometer-se, (...) denunciando a existência do diverso (...)
A emigração aponta muito mais para a ruptura, a mudança, o movimento, a recriação de tradições do que para a integração, a permanência e o imobilismo (...)".
Nas "Considerações Finais", Elena Pájaro Peres parte de uma advertência relativa à responsabilidade do intelectual, citando Michel Maffesoli. Esta residiria em responder pelos outros, talvez mesmo em responder em lugar dos outros e, para isso, o intelectual teria de escutá-los. Ao escutar o outro, o intelectual deveria tentar empreender um diálogo, buscando uma compreensão mútua que não ignore o seu próprio pertencimento a essa história. "E reconhecer essa participação em um sentido comum implica em desviar-se de pretensões explicativas e submergir no fluxo da história, tendo como certo que também para nós não há terra firme de onde se possa discursar.".
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