
Por vinte anos o Charlie Brown Jr. esteve nas FMs, rádios pop, rádios rock, nas TVs e festivais. Alguma coisa eles tinham. As canções eram rock ligue-os-pontos. Conectavam com muita gente. As letras de Chorão eram toscas e sinceras. Ganhavam ressonância e sentido em sua voz malaca. Diziam: sou só um garoto skatista e destrambelhado, procurando um lar e um amor. E nunca encontrarei, sugeriam.
Dá dó do cara morrer assim, 42 anos, firme e forte, dinheiro no banco, fãs à beça.
Parece overdose.
Surpresa, mas se for isso mesmo, surpresa nenhuma.
Tem gente que vive como um acidente na bica de acontecer. Quando a banda apareceu, 1992, já ouvíamos causos sobre os excessos de Chorão.
Depois só piorou.
Uma coisa é ser rebelde e enfiar o pé na jaca aos 20.
Depois dos quarenta, a vida é outra, e cobra.
O Charlie Brown não foi sempre essa autoparódia de hoje. Quando a banda apareceu, era única.
Ninguém mais no Brasil captou essa vibração californiana, praiana-urbana, surf e também skate, relax e tensão, vida boa e vida lôca.
Fora tínhamos Sublime, Red Hot Chili Peppers, Urban Dance Squad.
Aqui, ninguém, e ninguém seguiu o Charlie Brown.
Eles descobriram um mundo lá fora, recriaram esse mundo aqui dentro, e ali reinaram sem rivais.
Eles descobriram um mundo lá fora, recriaram esse mundo aqui dentro, e ali reinaram sem rivais.
Era o som moderno da Califa via Santos, muito brasileiro, galinha, eshperto.
A onipresença da banda mexeu com o núcleo dos maiores rivais do Charlie Brown em sua geração, seus antípodas em popularidade e respeito da crítica: Los Hermanos.
Charlie Brown era bermuda, tatoo, zoeira, somos do rock e vai encarar?
Los Hermanos barbicha, cabecice, instrospecção e ânsia desesperada de aceitação na MPB empoeirada.
Uma banda abraçava a praia, outra lhe dava as costas.
Chorão tinha milhões de amigos, Marcelo Camelo e companhia sonhavam com poucos e bons discípulos.
Um fez sucesso só de público, outro sucesso só de crítica.
Um dia a língua de Camelo foi mais longe que devia:
- "esse negócio de fazer comercial para Coca-Cola é um desdobramento da indústria, a gente rejeita esse negócio de vender atitude".
E depois:
- "o Charlie Brown Jr. é uma banda da qual temos discordâncias estéticas... são precursores deste estilo que combatemos."
E foi aí que Chorão ganhou minha torcida.
Porque foi tirar satisfações com Camelo.
Deu-lhe um soco no nariz, o que não é bonito, mas fácil entender e, no meu caso, aplaudir.
Camelo processou pela agressão, pedindo dinheiro, o que é menos bonito ainda, pra não dizer invertebrado.
Camelo processou pela agressão, pedindo dinheiro, o que é menos bonito ainda, pra não dizer invertebrado.
Perdeu.
Comemorei com Chorão.
Los Hermanos sempre pediram uns corretivos.
Mais triste que pensar que o Charlie Brown Jr. morre com Chorão, é reconhecer que a banda não deixa herdeiros, enquanto Los Hermanos tem um a cada esquina.
Não é questão de celebrar as melodias, letras ou arranjos do Charlie Brown, tudo muito simples.
Mesmo hoje, fundadores quarentões, era uma banda de moleque, bocuda e barulhenta.
Isso tem seu valor, mesmo que seja espiritual e não musical, e mesmo que não seja para mim.
Hoje até as bandinhas de moleque são pedantes, ensimesmadas, bananas.
O jovem roqueiro de hoje quer ser bunda-mole.
Chorão sai da área na hora.
O rock brasileiro ficou proibido pra ele.
Jornalista André Forastieri.
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