Nesta semana, ganhamos caquis, bananas e abacates, com a graça de Deus, desejando que jamais falte nada para quem deles cuidou.
As bananas são da família Kasahara, nossos melhores vizinhos.
Os caquis e os abacates vieram lá do Bairro do Pocinho, em São Miguel Arcanjo, grande produtor de frutas.
E de repente começamos a ruminar com nossos botões...
Como os tempos mudaram!
Quer dizer, como as pessoas mudaram! Bastante!
Saíram do mato para viver em qualquer canto escondido nas cidades. Queriam crescer, fazer parte das estatísticas, festejar seus santos, facilitar educação e estudos para a garotada.
Deixaram o fogão de lenha que maltratava tanto as mulheres, mas que mostrava sempre sobre ele, no fumeiro, um pedaço de toicinho ou uma linguiça, mistura abençoada para qualquer pessoa que ali chegasse com fome!
Deixaram a água pura do ribeirão que escorria por sobre as piçarras branquinhas - era só carregar para beber dentro de casa - para tomar nas cidades uma água cara e contaminada que nunca vai poder saber como é tratada.
Deixaram de possuir animais úteis para endividarem-se nos armazéns.
Deixaram a roça sofrida, claro, pelas intempéries, mas que nunca escravizou ninguém, para, ao final do mês chorarem sobre as obrigações acumuladas.
Deixaram de cuidar dos abacateiros, das laranjeiras frondosas, dos limoeiros e das mexeriqueiras cheirosos, das bananeiras, do pé de figo, do ananás, da carambola, das goiabeiras, do pêssego, do araticum, das samambaias caipiras, do milharal tão lindo, da cana, do pé de maracujá, do ingazeiro, do jatobá...
Tão lindo que era o verde naquela época!
Hoje, embaçado, só traz desgosto pela fraqueza que fez com que o homem abandonasse tudo para sofrer nas cidades.
Sofrer com uma miséria de salário, quando no mato havia de tudo, pois era só plantar; às meias, também valia.
Sofrer por não poder proporcionar frango no almoço dos filhos ou um leite fresquinho, pois nas cidades é proibido criar animais.
Ter que comprar frutas - tão caro nas feiras!
As pessoas largaram tudo para serem infelizes nas cidades.
E estas se encheram de gente faminta; de todas as espécies de fome.
Muitos pensam que as pequenas cidades como a nossa, hoje com seus trinta mil habitantes, ou mesmo as menores, ainda conservam as coisas do passado.
Que nada!
Já vai longe também o tempo em que os quintais nas residências urbanas eram imensos e se plantava toda sorte de árvores frutíferas.
Longe também o tempo das hortas, do milho verde, do
chuchu e do feijão jalo que cresciam pelas cercas dividindo as propriedades e também a produção.
Cremos até que esses acontecimentos foram tirando aos poucos a capacidade que o homem tinha de pensar e de sonhar.
E do jeito que as coisas andam a desandar, vai chegar um tempo em que os homens é que vão ter que ser espirrados do planeta por falta de espaço.
Quem viver, verá!
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