sexta-feira, 16 de março de 2012

POR FALAR EM TALLARICO...


Me vem à lembrança a figura de meu pai.
Foi no Sítio Bom Retiro, divisa com a cidade de São Miguel Arcanjo, que ele morou durante toda a sua vida, tão logo o pai falecera. 
Logo ao levantar-se, Gijo tinha o costume de tomar sua primeira dose de chimarrão, antes de adentrar no curral para puxar o leite das vacas, que era vendido na cidade. 
O rádio lhe dava as últimas notícias.
Aliás, não começava o dia sem elas.  
Entre dez e onze horas da manhã, ele então ligava a televisão, escolhia lá a TV Cultura, e se sentava diante da sua programação para tomar a segunda dose de chimarrão. 
Foi num dia desses que a TV Cultura, focalizando os municípios paulistas, começou a falar de Capão Bonito. 
Era um tempo em que o prefeito Tallarico Júnior era bem mais jovem. 
No programa, a população capãobonitense demonstrava o amor que sentia pelo Rio Paranapanema. 
Foi aí que o Gijo viajou no tempo. 
Capão Bonito sempre lhe esteve na alma e no coração, onde tinha guardado parte da sua juventude e onde também brotara a linhagem familiar. 
Nesse dia, o grande maestro Edmundo Cacciacarro, já saudoso, acabou sendo lembrado no programa televisivo. 
Quanta saudade brotou no peito do Gijo nessa hora! 
Conhecera o maestro intimamente.
Apesar de muito mais jovem que ele, participara de várias e célebres bebedeiras, todas, porém na mais cordial diversão, com o espírito sempre elevado à cultura, um dado muito importante devido nele sempre residir um alto grau de inteligência e uma reverência extraordinária ao Brasil. 
Uma vez, estiveram juntos em Iguape. 
Lá, acabaram terminando a noite num baile animado por um conjunto musical de Santos. 
Já alegres por uma enxurrada de cerveja, ambos sentaram-se perto dos músicos, onde um clarinetista executava algumas melodias próprias para a ocasião. 
Não se conformando com a apresentação do tal, Edmundo passou a contestá-lo, devido a sua má interpretação. 
Sentindo-se ofendido, o músico ofereceu-lhe o instrumento musical, uma clarineta. 
My God! 
Foi uma das coisas mais lindas que Gijo presenciou na sua juventude. 
O baile parou. 
Todos os presentes atentaram assustados diante da apresentação do Maestro Cacciacarro que fez misérias com a clarineta. 
Foi o mais belo espetáculo que aquela gente jamais apreciou em toda a sua vida. 
Grande maestro! 
Também grande boêmio! 
Quanto ao Rio Paranapanema, Gijo era de opinião que ele sempre representará alguma coisa de fundamental importância do que ainda resta da destruição que ocorre temivelmente em nosso planeta.

 

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