domingo, 1 de fevereiro de 2015

OS CALHEIROS MANDAM EM MURICI


Município de 27 000 habitantes situado a 50 quilômetros de Maceió, Murici frequenta com certa assiduidade o noticiário nacional por três motivos – todos lamentáveis: inundações devastadoras, escândalos de desvio de dinheiro público e o fato de sempre ter na prefeitura, em esquema de revezamento, políticos de sobrenome Calheiros.
A família domina há mais de trinta anos (21 deles ininterruptos) a administração municipal, muito embora seu filho mais famoso, o presidente do Senado, Renan Calheiros, só apareça por lá em campanha ou em dia de inauguração. Chafurdado em alguns dos piores indicadores socioeconômicos do Brasil – até mesmo para os padrões alagoanos -, Murici é o resultado da velha política assistencialista, cujas raízes remontam ao coronelismo.
Um terço dos moradores não sabe ler nem escrever, 65% dependem do Bolsa Família para sobreviver e o Índice de Desenvolvimento Humano rasteja em 0,58 (numa escala que vai de 0 a 1). Uma das maiores escolas públicas muricienses, com 560 alunos, funciona em salas de chão de terra separadas por tapumes. As crianças saem uma hora mais cedo porque a escola não oferece merenda. O problema não parece ser, nesse caso, de miséria. Um processo que aponta irregularidades nas verbas de merenda na cidade já chegou ao Supremo Tribunal Federal.

Coluna do Ricardo Setti/2013.

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