Tom Zé, um tropicalista original que foi esquecido pelos demais tropicalistas originais, dá um duro para se manter.
Além dos shows e discos, trabalha como jardineiro (é muito querido, aliás, pelos moradores de um prédio nas Perdizes, em São Paulo).
A indústria fonográfica sofre e, você sabe, ele não é um sertanejo universitário.
Recentemente, faturou 80 mil reais da Coca-Cola pela narração de um comercial da Copa do Mundo.
Mas avisou que vai doar o dinheiro para a Sociedade Lítero-Musical 25 de Dezembro de Irará, sua cidade natal, na Bahia.
A razão é que seus fãs o acusaram de vendido.
Foi xingado nas redes sociais de “mané”, “velho babão”, “bundão”, “príncipe que virou sapo”, “corrompido”, “garotinha ex-tropicalista”, “mentiroso”.
Compôs uma canção a respeito desse episódio chamada Tribunal do Feicebuqui.
Quem precisa de inimigos com um público desses?
- “Eu sou pobre, continuo pobre”, disse ao UOL. “Esse dinheiro estava me atrapalhando, me incomodando, resolvi doar. Estava agora com a minha mulher fazendo as contas e está um aperto ‘fela da puta’”.
A chantagem de seus “admiradores” é absurda, desumana e indesculpável.
Agora, por que Tom Zé se submeteu a isso é um mistério.
Não foi, ao que se depreende, uma decisão fácil. Se tivesse sido, ele não teria feito uma música.
Por que um artista com 40 anos de carreira deveria baixar a cabeça para pessoas que, aparentemente, só lhe dão valor se ele não sair do, como ele mesmo diz, “aperto”?
A pureza de Tom Zé é genuína.
O cachê ganho foi legítimo, merecido e fruto de décadas de música.
Em que conspurcaria sua imagem?
Em que isso mancharia sua reputação de, vamos lá, iconoclasta?
Em nada, nada, nada.
Ao contrário, lhe daria fôlego para produzir mais — e viver melhor.
Por que ele concordou?Ao aceitar a trolagem de seus “fãs”, Tom Zé foi conivente com ela – e cúmplice.
Do Diário do Centro do Mundo.
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