sábado, 6 de junho de 2015

FOLHA ENTREVISTA ROBERTO JEFFERSON

Dez anos após conceder entrevista à "Folha", Roberto Jefferson volta a falar ao jornal sobre os motivos que o levaram a denunciar o esquema do mensalão, em 2005. 
Devidamente autorizado pela Justiça, Jefferson detalha como funcionava o esquema de mesadas a deputados criado pelo governo do PT ("que impôs ao País o Padrão Fifa de corrupção"), e fala da contribuição que sua denúncia deu ao futuro do país: 
"o Dirceu saiu da fila. Se fosse ele o presidente, nós já estaríamos vivendo aqui a Venezuela. Com ele, não ia ter papel higiênico". 
Entrevista de Roberto Jefferson publicada na "Folha de S.Paulo" deste sábado (06): 
Folha - Por que o sr. decidiu denunciar o mensalão? 
Roberto Jefferson - Decidi dar a entrevista porque tinha sido vítima de uma matéria que deflagrou o processo da minha cassação. Aparecia um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo R$ 3 mil e dizendo que era para o PTB. Era uma pessoa com quem eu não tinha nenhuma relação. Virei o grande vilão nacional por R$ 3 mil. A matéria foi feita por encomenda da Casa Civil [então chefiada por José Dirceu]. Nós identificamos imediatamente de onde veio. 
Folha - O governo tentou algum acordo para silenciá-lo? 
R. Jefferson - Quando eu estava sob tiroteio, vai à minha casa o líder do governo, o [Arlindo] Chinaglia, e propõe um acordo. "Roberto, você renuncia à presidência do PTB, o governo designa um delegado ferrabrás para o processo, ele arquiva e tudo se acerta". Eu disse: "Não aceito. Eu entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Só que eu vou carregar um bocado de caras comigo. Vocês não vão me ver de joelhos, eu vou enfrentar vocês". [Chinaglia nega o relato.] 
Folha - Dez anos depois, o PT diz que não se comprovou o pagamento de mesada a deputados. 
R. Jefferson - Havia mesada. A Lava Jato agora clareou isso. Por respeito à decisão do ministro [Luis Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado. Mas o [Alberto] Youssef fazia pagamento mensal para vários deputados de partidos da base. Era aquilo que havia na época. As malas chegavam com R$ 30 mil, R$ 60 mil, R$ 50 mil. Não se comprovou porque não fotografaram. 
Folha - Por que o sr. não aceita ser chamado de delator? 
R. Jefferson - Isso me deixa chateado. Delator é quem está dentro. Eu não deixei o PTB entrar no mensalão, não aluguei minha bancada. Quando o juiz me propôs a delação premiada, respondi: "Excelência, delação premiada é conversa de canalha. Quem faz delação premiada é canalha". 
Folha - O sr. afirmou que Lula era inocente. Mantém essa versão? 
R. Jefferson - Eu avisei o presidente [sobre o mensalão]. A reação dele à época me deu a impressão de que ele não soubesse. Quero crer que ele não sabia. 
Folha - Seu advogado disse ao STF que Lula chefiou o esquema. R. Jefferson - Aí foi a liberdade do advogado. Eu dizia: "Para de bater no Lula, pelo amor de Deus. Você tá contrariando o que eu disse, tá me deixando de mentiroso". Foi quando ele renunciou [à defesa]. Ele é convencido de que o Lula tem culpa, de que não se faria uma coisa dessa envergadura sem o presidente saber. Ele é meu amigo, é um grande advogado, mas não obedece o cliente (risos). 
Folha - Qual a maior consequência de sua denúncia para o país? 
R. Jefferson - Caiu aquele véu que havia sobre o PT, de partido ético, moralista. O PT posava de corregedor moral da pátria. Ali caiu a máscara. O PT a vida inteira deblaterou contra os adversários, mas "blatterou" a prática política padrão Fifa. O PT impôs ao país o padrão Fifa da corrupção. 
Folha - Dirceu era cotado para suceder Lula. Considera que mudou a história do país? 
R. Jefferson - O Dirceu saiu da fila. Se fosse ele o presidente, nós já estaríamos vivendo aqui a Venezuela. A Dilma é o Maduro (risos). O Chávez é o Dirceu. Com ele, teria cerceamento das liberdades democráticas, perseguição à imprensa livre, cadeia para opositor. Não ia ter papel higiênico. Folha - O que o levou a aparecer na CPI com o olho roxo? 
R. Jefferson - Foi por causa de uma discussão com a [ex-deputada] Laura Carneiro sobre o Lupicínio Rodrigues e a música 'Nervos de aço'. Ela dizia que era de outro autor. Eu fui pegar o CD. Era uma daquelas estantes antigas, estava solta da parede. Quando fui me apoiar, o móvel veio. Parecia que eu tinha apanhado. Essa história não adianta [repetir]. Nem minha mãe acreditou. Se mamãe não acreditou, como é que as pessoas vão acreditar? 
Folha - O sr. foi condenado por receber R$ 4 milhões do PT. O que fez com o dinheiro? 
R. Jefferson - Foi gasto nas eleições municipais do PTB em 2004, em campanhas de prefeito no Rio, em Minas, São Paulo. Isso ficou no passado. O partido no poder é que tem dinheiro para fazer eleição. O pequeno não tem, ele recebe o repasse do grande. 
Folha - Quem fez o acordo no PT? 
R. Jefferson - O Dirceu, na Casa Civil. Fechamos ali naquele prédio da Varig [em Brasília]. Financiamento de R$ 20 milhões à eleição do PTB, em cinco parcelas de R$ 4 milhões. Esse acordo não foi cumprido, só foi paga a primeira parcela. Foi um desastre para o PTB. 
Folha - Há quem acredite que esse é o verdadeiro motivo de sua briga com Dirceu e o PT. 
R. Jefferson - Se mamãe não acreditou que a estante caiu em mim, não quero convencer ninguém. É minha versão. Quem não acredita, paciência. 
Folha - O sr. também foi acusado de usar órgãos do governo, como o Instituto de Resseguros do Brasil, para financiar o PTB. R. Jefferson - O Lídio Duarte nos procurou para ter aval para ser presidente do IRB, fez um acordo conosco. Ele colocaria cinco brokers, operadores de mercado, recebendo R$ 60 mil de cada um. Conseguiria fazer um caixa de R$ 300 mil para ajudar o partido. Coisa que ele nunca cumpriu. 
Folha - Era dinheiro de caixa dois? 
R. Jefferson - Sim. 
Folha - Isso é diferente do que foi descoberto no petrolão? 
R. Jefferson - Não é diferente. Infelizmente, as estatais são braços partidários. As empresas públicas ainda funcionam no financiamento dos partidos. O cara briga para fazer diretor da Petrobras. É para fazer obra positiva, a favor do povo? Não existe isso. As estatais são as grandes promotoras da infraestrutura do país. Elas é que são fortes. Não tem empresa privada no Brasil. E tem as paraestatais, que são as empreiteiras. Funcionam em função do governo. 
Folha - O que acha da proposta de financiamento público? 
R. Jefferson - O Brasil não tem financiamento privado. O financiamento é público de segunda linha, mas é. Quem financia campanha no Brasil são as empresas que têm grandes contratos com BNDES, Banco do Brasil, Petrobras. Eu acho uma graça isso: "Temos que acabar com o financiamento privado". Não tem financiamento privado, é estatal. Os empreiteiros não são privados, são braços das estatais. É aí que está o caixa de toda eleição. 
Folha - Então não seria melhor proibir as doações? 
R. Jefferson - Se proibir o financiamento privado, vai tirar dinheiro da saúde, do transporte e da educação para fazer campanha. É um absurdo. O político vai ser linchado na rua. E proibido o financiamento privado, você dificilmente derrotará o partido oficial. 
Folha - Depois de ser cassado e preso, o sr. se arrepende por ter denunciado o mensalão? 
R. Jefferson - Eu sabia o que ia acontecer e estava preparado. Não tenho nenhum arrependimento. Zero. Só não gostaria de fazer de novo, de sofrer isso tudo outra vez. 

Postado por Equipe do Blog às 10:06 de hoje.

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