terça-feira, 30 de junho de 2015

AUGUSTO NUNES: Depois do falatório da presidente em Washington, a lama que estava na linha de cintura chegou à altura do pescoço.



A lama do Petrolão chegou à linha de cintura de Dilma Rousseff depois do que disse o empreiteiro Ricardo Pessoa. Alcançou a altura do pescoço presidencial depois do que o neurônio solitário resolveu dizer em Washington. Quando não se sabe o que fazer, melhor não fazer nada, repetia Dom João VI. Dilma faz declarações destrambelhadas. E sempre consegue piorar o que está péssimo, confirmam três momentos do falatório desastroso:
1. “Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora”.
A primeira frase informa que Dilma resolveu esquecer que foi ela quem sancionou a Lei 12.850, que regulamentou em 2013 o instituto da colaboração premiada. Insista-se: COLABORAÇÃO: a palavra “delação”, que não aparece uma única vez no texto, foi mais um aleijão adotado por jornalistas sem pudores e advogados sem álibis. A mesma frase revela que Dilma — a exemplo de Marcola, chefão do PCC — só respeita criminosos que escondem as bandidagens que cometeram e a identidade dos mandantes ou comparsas. Gente como João Vaccari Neto e Renato Duque, por exemplo.
A segunda frase sugere que Dilma não enxerga diferenças entre o governo que preside e o chefiado pelo general Emílio Médici nos anos 70. A terceira insinua que os quadrilheiros presos em Curitiba têm sido submetidos a selvagens sessões de tortura. Os carrascos são os homens da lei que participam da Operação Lava Jato.
2. “Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm interesses políticos.”
A primeira e a segunda frases, conjugadas, informam que a declarante não lembra que transformou a larápia Erenice Guerra em melhor amiga, braço direito e depois sucessora na chefia da Casa Civil; que nem sequer ouviu falar do dossiê forjado para caluniar Fernando Henrique e Ruth Cardoso; que nunca participou de reuniões do Conselho Administrativo da Petrobras por ela presidido anos a fio; que não sabe quem é Lina Vieira; que ignora a existência de qualquer tramoia concebida para revogar calotes fiscais da Famiglia Sarney; que nada fez para que o ministério se assemelhasse a um viveiro de corruptos; que conhece só de vista o amigo de infância Fernando Pimentel; que mete o nariz em tudo, mas é portadora de uma disfunção olfativa que a impede de sentir cheiro de corrupção.
3. “Há um personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. E ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator”.
Combinadas, as duas frases informam que, na cabeça da Doutora em Nada, o Petrolão é a Inconfidência Mineira do Brasil moderno, com Ricardo Pessoa no papel de Joaquim Silvério dos Reis. 
Lula, claro, é Tiradentes. 
A declarante é a Marília de (José) Dirceu. 
Os verdugos a serviço da Coroa portuguesa são o juiz Sérgio Moro, os procuradores federais, os policiais federais engajados na Operação Lava Jato, a elite golpista, a imprensa reacionária e FHC.
Nesta segunda-feira, aparentemente, Dilma tentou lançar-se candidata ao posto de Madre Teresa do Planalto. 
Acabou transformando em certeza a suspeita encampada por 10 em 10 habitantes do país que pensa: na mais branda das hipóteses, a presidente da República agiu anos a fio como cúmplice e coiteira da quadrilha que consumou a maior ladroagem ocorrida desde o Dia da Criação.

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