quinta-feira, 4 de junho de 2015

POBRE DAQUELE QUE NUNCA VÊ

Uma das tragédias do nosso tempo é que parecemos ter perdido, num mundo repleto de maravilhas, a capacidade de nos maravilharmos.
Afundados em invenções e conhecimentos, dizemos "E daí?", quando devíamos exclamar "Que maravilha!"
Por que não havemos de expressar o profundo espanto do venerável salmista bíblico que disse: "Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste... o que é o homem que dele te lembres?"
O escritor James Agee, em seu livro "Uma Morte na Família", sugeriu uma maneira de sensibilizar o sentido do maravilhoso, de avivar a consciência do mundo que nos cerca.
"Meus pais estenderam mantas no gramado áspero e úmido", escreveu ele. "Estamos todos deitados: minha mãe, meu pai e minha tia, e eu também. A conversa é tranquila, sobre nada em especial. As estrelas são grandes e vivas, cada uma como um sorriso de grande doçura, e parecem muito próximas."
É possível conhecer uma noite assim.
Enquanto você está deitado, observando o céu que gira, talvez se espante com a quantidade de estrelas no céu ou com a distância a que se encontram - as mais próximas a trilhões de quilômetros!
Deus, cuja aparente majestade é medida em bilhões de anos-luz - e a gente mais uma vez se maravilha - é capaz de ser afável, solícito, com o grão de pó que somos!
Talvez o emocione o fato de o homem ter ousado aventurar-se para além da atmosfera terrestre, cálida e protetora, desafiando as distâncias frias e misteriosas do espaço.
Pode ser que se surpreenda repetindo o poeta John Greenleaf Whittier: "Pobre daquele que nunca vê as estrelas cintilando através dos ciprestes."
Vá um dia ao campo, e, em vez de se deitar de costas, deite-se de bruços.
Em vez do mundo em macrocosmo, observe agora o maravilhoso mundo microcósmico. Talvez veja uma minhoca, a maior removedora de terra e preparadora do solo de toda a Natureza.
Olhe uma folha de grama - mas olhe mesmo uma folha de grama. Pense na sua dívida para com ela. A grama usa energia da luz solar para misturar a água da terra com o gás carbônico da atmosfera, ajudando assim a criar o ar que você respira. Sua clorofila tinge o mundo de verde.
Eis o Reino dos Céus!
Considere-se particularmente feliz se encontrar uma gota de orvalho. Pense em como caiu do céu e em como se formou sobre a grama. Quando o sol a aquece, suas moléculas de umidade tornam-se irrequietas, elevando-se talvez mais que um avião, sob a forma de vapor. A água nessa gota de orvalho - fresca e cintilante à luz do sol - é antiguíssima, vem do tempo em que a Terra esfriou. Gota a gota, ajudou à erosão dos continentes, à formação dos oceanos donde nasceu a vida.
Ó meu Deus, quão vários os Teus trabalhos e quão sábios os Teus caminhos. Perdoa-nos por adorarmos as coisas erradas.
Mas o céu sobre a sua cabeça e a grama sob os seus pés não são, nem de longe, tão maravilhosos como o próprio homem.
Há dois milhões de anos, ou mais, uma criatura foi destacada de todo o resto para sofrer modificações fantásticas. Com sua mão superior, criou instrumentos e ferramentas. Tendo perdido muitos dos seus instintos, teve de raciocinar; perdendo os hábitos de acasalamento, teve de refinar as afeições a fim de manter unida a sua família. Começou a ter a noção de tempo e espaço, do bem e do mal; começou a inventar símbolos, sob a forma de sons, podendo assim compartilhar as suas especulações filosóficas através da fala.
Assim se transformou uma criatura amebiana num Eisnten, num Edison e num Anatole France; edificou Pártenos e Capelas Sistinas; escreveu uma Sinfonia Coral, e algumas vezes deu a vida por causas superiores a ele próprio.
E o maravilhoso do homem é que ele mal começou.
Pensando bem, que é, senão adoração, o nosso espanto?
Louvar e atribuir valor.
Adoramos quando nos extasiamos perante algo, de boca aberta, olhos incrédulos.
Penetramos então no âmago das coisas, libertamo-nos da nossa vida de canseiras.
Admirar e adorar é penetrar na essência de Deus.
Portanto, olhe o céu, olhe a terra, olhe à volta os seus irmãos, e maravilhe-se com o Reino em que vivemos.

- Condensado de um sermão do Reverendo Weston A. Stevens e publicado na revista Seleções do Reader`s Digest no ano de 1972.

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