sábado, 17 de fevereiro de 2018

QUEM DOMINA A ESCOLA DE SAMBA BEIJA-FLOR DO RIO TAMBÉM DOMINA A CIDADE DE NILÓPOLIS HÁ 40 ANOS.

















Dominada por família de patrono da Beija-Flor, Nilópolis vive as mazelas do desfile. 
Sebastião mora nas ruas de Nilópolis (Foto: Bruno Alfano)


O abandono que a Beija-Flor levou à Sapucaí é visível em Nilópolis — município dominado há 40 anos pela família que controla a escola. 
No desfile, foram retratados moradores de rua, morte de policiais, brigas de torcida, intolerância contra trans e corrupção: uma realidade comum na cidade. 
A ideia do enredo que deu o título à escola foi de Gabriel David, filho do bicheiro e patrono da agremiação Aniz Abrahão David, o Anízio da Beija-Flor.
Juliano sofre para subir as escadas da estação.
— Aqui em Nilópolis não tem nada. Só a escola de samba para comemorar que não me adianta em nada agora — reclama o cadeirante Juliano Ribeiro, de 33 anos, que teve que ser carregado por desconhecidos na escada rolante que não funciona da estação de trem.
O golpe militar de 1964 foi o momento de virada e ascensão da famílias de Anízio, segundo o livro “Dos barões ao extermínio: Uma história da violência na Baixada Fluminense”, de José Claudio Souza Alves. 
A obra conta que eles dominaram a cidade denunciando inimigos à Ditadura Militar.
Desde 1973, foram sete mandatos de prefeitos que pertencem a uma dessas duas famílias. 
Simão Sessim é o primeiro dessa lista. Primo de Anízio, ele é atualmente deputado federal pelo Partido Progressista (PP), da base dos governos de Pezão e de Sérgio Cabral. 
O ex-governador, agora preso por corrupção, foi retratado no desfile com o famoso episódio da farra dos guardanapos.
Ratos foram à Avenida Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo.
A lista de prefeitos de Nilópolis ainda tem um filho de Simão Sessim, Sérgio Sessim (entre 2009 a 2012) e três irmãos de Anízio: Miguel David Abraão (1983 a 1988), Jorge David (1988 a 1992) e o atual chefe do Executivo da cidade, Farid Abraão (2001 a 2004, 2005 a 2008 e 2017 a 2020).
— A prefeitura me ofereceu abrigo, mas não quis ir porque são todos de igrejas evangélicas — diz Sebastião Miranda, morador de rua de 38 anos: — Vivo catando papel. Carrego 50 quilos andando por meia hora para conseguir R$ 12,50. Faço duas viagens e consigo as minhas refeições no dia.
Cabral e Adriana Ancelmo foram retratados na Avenida Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo.
A violência retratada no desfile é rotina na cidade. 
O número de carros roubados em Nilópolis (1.547) é o 12º maior no estado, mesmo tendo uma população muito baixa. Esse é um recorde histórico. 
A taxa de homicídio também é alta: 31 para cada mil habitantes. Foram 49 no último ano. A média do estado do Rio é de 36 por mil habitantes.
Anízio também tem problemas com a Justiça. 
Ele já foi preso pelo menos seis vezes, duas delas em 2007 pela operação Hurricane, que investigou a cúpula da contravenção do Rio. 
Ele foi condenado a 48 anos e 25 anos de prisão na primeira instância da Justiça Federal e responde em liberdade. 
Em 2011, foi detido novamente. 
Com problemas de saúde, cumpriu prisão domiciliar por dois meses. 
Já em outubro do ano passado, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão que terminou com cinco carros de luxo de Anízio apreendidos.

Confira a nota da Prefeitura de Nilópolis
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social é a responsável por oferecer o acolhimento daqueles que se encontram em condição de vulnerabilidade social. Cabe ressaltar que por Lei, apenas é ofertado o acolhimento, não havendo em nenhum momento a obrigatoriedade de se aceitar esta oferta. Diante disto, cabe expor que a Prefeitura de Nilópolis não impõe, de forma alguma, nenhum tipo de credo aos assistidos pela Secretaria de Desenvolvimento Social. Vale também informar que no município há grupos voluntários de instituições religiosas que atuam, em paralelo, no oferecimento de abrigo à população em condições de vulnerabilidade social.
Sobre as escadas rolantes que ligam o mezanino da estação ferroviária de Nilópolis ao Calçadão da Avenida Mirandela, sofrem manutenção constante, inclusive cabe ainda salientar que funcionários da Prefeitura de Nilópolis, devidamente uniformizados ficam a disposição dos usuários para auxiliar os usuários. 
Infelizmente, as escadas sofrem com o vandalismo, o que nos obriga a desligar o equipamento quando o mesmo sofre algum dano. De qualquer forma, quando há algum problema, a empresa contratada para realizar a manutenção, em no máximo 24 h envia um técnico para realizar o reparo.
O quadro de cidade caótica e explorada por uma só família retratado na reportagem não condiz com a realidade de Nilópolis. 
Farid Abrão assumiu a prefeitura em janeiro do ano passado sucedendo a Alessandro Calazans, do PMDB. Pegou a cidade destruída, com serviços interrompidos e salários atrasados. Desde então, vem trabalhando duro e conseguindo colocar as coisas em ordem.
Não é verdade, por exemplo, que a escada rolante que dá acesso à estação não está funcionando. Ela tem horário de funcionamento definido porque não é possível mantê-la funcionando por 24 h sem público que justifique esse gasto.
Na área de Segurança, a secretaria municipal que cuida da área tem conseguido reduzir significativamente os índices de violência. Tem colaborado, inclusive, na recuperação de cargas roubadas.
Na saúde, o Hospital Juscelino Kubitscheck voltou a funcionar com atendimento humanizado é curto tempo de espera. O próprio Extra Baixada esteve lá fazendo matéria, repórter Cintia Cruz, e pôde verificar isso.
Os salários atrasados também foram colocados em dia. 
Os lixões nas esquinas foram substituídos por um projeto de arborização também já retratado em matéria do Extra.
Enfim, sabemos que ainda há muito a fazer, mas os avanços são inegáveis. 
E é por isso que a família Abrão tem a confiança da população, demonstrada sempre em votações expressivas. Porque são da cidade, conhecem e vivem seus problemas e trabalham incansavelmente para resolvê-los. 
O resto, é disputa de carnaval.
Jornal EXTRA

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