domingo, 13 de novembro de 2016

A PRAÇA DO TROPEIRO ( OU PRACINHA DO BURRO) EM CAPÃO BONITO

 
 
 
 
 
 
 
 
 
                               A OBRA É O CONFETE
 
Capão Bonito não nasceu Tropeiro. A primeira influência cultural do capão-bonitense “da gema” veio da Gamela. Usava-se esse instrumento doméstico para muita coisa: salgar e conservar a carne, lavar as mãos… Mas a utilização dessa peça não era única e exclusiva do capão-bonitense. Muitos povoados do século XVIII também tinham o mesmo costume, mas, alguém decidiu adotar a Gamela como a nossa marca cultural número 1, e ficou!
Outra influência do povo gameleiro foi transportava no lombo das mulas e burros comandados pelos Tropeiros gaúchos, que por aqui passaram e deixaram, não só as mercadorias e os animais, mas muito costume cultural: a vestimenta, o churrasco, a dança e a conversa mansa do tropeirismo.
Houve uma pequena americanização do Tropeirismo, mas nada que descaracterize a nossa originalidade. Botar uma cinta com a bandeira dos EUA ou usar uma bota texana não destrói as nossas raízes, tão profundas.
O Tropeirismo é um símbolo cultural do nosso povo e não há ninguém que ouse em nos roubar essa identidade. Nesse aspecto, devemos aplaudir o ex-prefeito Junior Tallarico, pois, às vezes, uma ideia vale mais do que a própria execução. Infelizmente, extinguiu-se gênios como Michelangelo, que criava e esculpia ao mesmo tempo. Tallarico ousou duas vezes: Primeiro construiu um belíssimo Centro de Tropeirismo no Jardim Santa Isabel, onde eram realizados os tradicionais rodeios, provas de laço, bailões gaúchos e outras atividades culturais.
Porém, vieram outros prefeitos e com eles a vaidade política. Ninguém prosseguiu com o projeto que na época tinha infraestrutura superior à Expoagro de Itapetininga. Os rodeios no Kai-kan foram excelentes na grade artística e na organização, mas as culturas se chocaram.
Outro projeto cultural ligado ao gênero do tropeirismo criado por Junior Tallarico foi a Praça do Tropeiro. A ideia, repito, foi excelente, porém, a execução não seguiu a mesma sobriedade. Quem desconhece as nossas raízes culturais, chama o local de “pracinha do burro”. 
Há de se perdoar a total falta de conhecimento do próprio lugar onde reside.
A Praça do Tropeiro ficou abandonada por muito anos, mas com a chegada da duplicação na entrada da cidade, o atual governo não teve outra alternativa a não ser revitalizá-la, e assim foi feito. Na última sexta-feira, dia 19, promoveram uma festa à altura com tendas, som, palco, microfone, luzes, câmeras e muitos discursos para celebrar o revitalizado empreendimento urbanístico com direito à presença de dois deputados, um do Estado e o outro da União.
Na plateia, muito funcionário público e pouco povo. Os discursos se transformaram em uma quase reunião de trabalho. Em sua fala, o prefeito Julio Fernando acertou ao dizer que uma das marcas de sua gestão são as obras de qualidade. Fato! Mas acho que falou um toque diplomático. Mesmo sendo um projeto meio rústico, a Praça do Tropeiro foi criada pelo ex-prefeito Junior Tallarico. Pela histórica e pela cultura, valeria uma citação.
Em tempos de austeridade fiscal, poderíamos também economizar com todos esses aparatos de inauguração. Considero dispensável toda essa parafernália. 
A obra em si é o confete.
Francisco Lino, jornalista; as fotos são dele também.

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