quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"OFICINA VAZIA"

Na varanda do quintal, tenho a pequena oficina em que faço minhas joias, com sementes que os amigos trazem da floresta. Em silencioso trabalho, vou polindo também pensamentos, palavras, sentimentos e decisões. 
Nas vésperas de grandes momentos da política de que participo, encontro nesse trabalho inspiração e calma. 
Comparo-o à gravidez, quando precisamos de tranquilidade em meio a grandes esforços.
Às vezes, não há tempo para o artesanato, apenas o breve olhar saudoso para a oficina ao sair na pressa de viagens e reuniões. Resta o consolo do caderno onde desenho, num avião ou numa sala de espera, colares que um dia fabricarei.
Em dias mais agitados, nem mesmo o caderno. 
O tempo é semente preciosa e rara.
Mas consegui – em madrugadas de oração – ver que há, instalado na alma, um dispositivo da fé que nos dá “calma no olho do furacão” e a esperança de que tudo sairá conforme uma vontade superior à nossa.
Essa conformidade exige condições. 
A primeira é a consciência tranquila de ter feito tudo o que estava em nossa capacidade de acreditar criando, não só cumprindo as regras, mas dedicando alma e coração.
Numa régua nos medimos. 
O chefe do governo sabe se faz tudo pelo direito republicano dos cidadãos ou só propaganda para manter o poder. 
O líder da oposição sabe se defende o bem do país ou torce por erros do governo para tirar votos. 
O empresário sabe se produz responsabilidade socioambiental ou só transforma prejuízo público em lucro privado. 
O magistrado sabe se busca justiça ou formalidades que condenam inocentes e absolvem culpados.
Por isso, a ética é base da sustentabilidade, espaço público e íntimo em que cada um encontra sua verdade e a segue ou a trai, ocultando-a sob uma consciência opaca.
Do Blog da Marina.

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