Toda noite tem aurora. E toda aurora tem seus galos, clarinando no escuro o dia por nascer. A ambição do portal Vermelho é ser um galo assim na internet. Contribuir para dissipar treva neoliberal. Trabalhar para que venha logo a alvorada dos trabalhadores e povos da Terra.
Vermelho nasce num planeta imerso na crise e na guerra.
Num continente sob ameaça de recolonização em nome do "livre comércio".
Num Brasil entregue aos Silvério dos Reis contemporâneos.
E num ambiente, a internet, que é o fiel espelho virtual desta realidade.
Também aqui reinam o neoliberalismo com o imperialismo norte-americano à frente, a hiper-mercantilização e a concentração da riqueza, a crise e o desemprego, o banditismo e o lixo cultural - em especial o made in USA.
No entanto, combatendo a treva há também a luz.
A consciência crítica se reergue, de Seattle a Ramallah e Porto Alegre.
Muitos milhões de mulheres e homens se engajam na resistência, em nome da paz, do progresso e da liberdade.
A própria internet é igualmente um cenário da luta por outra realidade, por um mundo novo, um novo Brasil.
E um cenário para um público de milhões, que permite comunicação de massas a preço relativamente desprezível, em tempo real e escala planetária, com texto, som, imagem, movimento, interatividade…
Vermelho engaja-se neste combate.
Empenha-se em explorar ao máximo estas características. Deseja colocá-las a serviço dos trabalhadores e não dos burgueses, dos povos e não dos impérios, da liberdade e não do macartismo bushiano, do conhecimento e não do embrutecimento, da programação livre e não do monopólio da Microsoft.
A modernidade, e seu ícone da moda, a internet, encerram em si duas classes sociais e, logo, dois projetos.
Rejeitamos a modernidade burguesa, conservadora, que nos vende a cada dia uma mudança para que tudo continue como está.
Por isso mesmo abraçamos a modernidade transformadora, revolucionária, que busca nas mudanças do presente os pontos de apoio capazes de alavancar o futuro.
Sim, tomamos partido, para o escândalo dos senhores embelezadores do status quo.
A partir do nome - Vermelho! - proclamamos orgulhosamente nossos compromissos: com a independência e soberania de nosso país; com a liberdade e a democracia; com o progresso, os direitos e conquistas sociais, o trabalho e os trabalhadores; com o socialismo e o comunismo; com as bases teóricas e as forças de vanguarda capazes de conduzir estas lutas.
Com este posicionamento dirigimo-nos aos internautas, em particular três segmentos que vêm crescendo na medida em que o público da rede se torna mais amplo e mais pobre: a juventude; a intelectualidade; e, por fim mas não por último, a numerosa parcela do proletariado moderno que freqüenta a internet no trabalho ou em casa.
Vermelho nasce com os olhos bem abertos para a totalidade do planeta, empenhado em interagir com ela.
Suas páginas em espanhol e inglês, mesmo modestas, testemunham esta disposição.
Porém enxergamos o mundo a partir dos interesses do povo brasileiro.
Esta perspectiva determinada não é superior à de ninguém, mas tampouco inferior, como crêem nossas colonizadas classes dominantes.
Os brasileiros temos apenas cinco séculos de formação, atribulada e penosa.
Somos um povo novo.
Mas germinou aqui, aos trancos e barrancos, uma identidade original, um tipo de matriz flexível, aberta, assimiladora, um humanismo desimpedido.
E ela é uma contribuição que temos a oferecer à raça humana, neste início de século envenenado pelo racismo e a intolerância.
O ponto de vista brasileiro é também o de uma nação dependente e oprimida que almeja libertar-se.
Reclama a rebelião contra o retrocesso que vai nos condenando à condição de neocolônia, da economia à cultura.
Longe deste combate decisivo, tampouco haverá democracia para as grandes massas, nem progresso e bem-estar social.
O jargão em voga na internet banalizou e abastardou o termo "conteúdo".
Vermelho aspira recuperar seu significado primitivo e essencial, que não se mede em gigabites.
Perseguimos um conteúdo cuja quantidade exprima qualidade. Um conteúdo sem aspas, que se meça em idéias novas, denúncias candentes, argumentos sólidos, exemplos eloqüentes, propostas mobilizadoras, polêmica, investigação e análise, criatividade, ousadia.
Um tal conteúdo não se impõe limites de pauta.
Tudo que é humano - e em especial brasileiro - nos interessa: política e futebol, biotecnologia e desemprego, Alca e frevo, segurança pública e sindicatos, racismo e saúde, meio-ambiente e privatizações, eleições e cinema, história, ocupações de terra, feminismo, greves, filosofia, escolas de samba, guerrilhas, ciências, meninos de rua, sonhos…
O nexo desta infinidade temática é político.
Hoje, o povo brasileiro, enojado com a hipocrisia, corrupção e truculência políticas das classes governantes, tende a rechaçar em bloco a política e os políticos.
Com o devido respeito, isto é uma tolice.
O preconceito tem por certo suas explicações, porém nenhuma justificativa.
No limite, ele protege e perpetua justamente a velha ordem dos políticos hipócritas, corruptos e truculentos - que alimentam o lugar-comum de que política é mesmo uma coisa suja.
O caminho da emancipação, do progresso e do bem-estar passa obrigatoriamente pela política, pela politização das maiorias hoje em grande parte marginalizadas, pela conquista e transformação do regime político, pelos partidos políticos democráticos e progressistas.
Em estreita conexão com o conteúdo, a atualidade é decisiva - uma pré-condição para quem deseje acompanhar e interagir com a realidade fora da rede, em transformação incessante e às vezes vertiginosa.
Surge daí o Diário Vermelho, com funções de informação mas também de opinião, colunas, crônicas, cadernos estaduais, municipais - e ainda o vasto espaço do Falapovo, aberto à colaboração dos internautas.
O ferramental da interatividade abre todo um universo de possibilidades para Vermelho ter um uso múltiplo, polivalente. Os jornais operários de cem anos atrás já se colocavam as tarefas de organizadores coletivos.
Um portal na internet permite que se eleve ao cubo essa função, e que se agregue muitas outras, de finanças, formação, acervo das idéias, das obras e da memória do movimento, para não falar da mobilização concreta em torno das batalhas de cada momento.
Vermelho nasce como uma oficina de si próprio.
Irá se fabricando no ar, abrindo seu caminho ao andar.
Esta é em parte uma imposição das circunstâncias em que ele nasce, com uma equipe central ainda pequena e poucos recursos. Mas é sobretudo uma escolha consciente: um portal militante confia seu êxito à contribuição militante.
Fala-se muito hoje em crise da militância.
Não poderia ser diferente nestes tempos de individualismo exacerbado.
Entretanto, a humanidade é maior que esta fase desumanizadora.
Os valores do trabalho, da criação, da fraternidade, da generosidade, rebrotam sem cessar, a despeito dos tempos difíceis e até como mecanismo de autodefesa.
Vermelho nasce para abrigar, cultivar, dar espaço e visibilidade a muitos milhares de contribuições militantes.
Será um portal feito como Van Gogh fazia quadros, como Clementina de Jesus fazia música, como Cipriano Barata fazia seu jornal nas masmorras do Império, como Che Guevara fazia a guerrilha: pela simples, limpa e forte convicção de que estas são coisas necessárias.
Não vai aqui qualquer concessão ao amadorismo ou à improvisação.
Mas quem disse - afora os sacerdotes do neoliberalismo - que só possuem qualidade e excelência as coisas que têm um preço no mercado?
Ao contrário, desde os primeiros passos preparatórios, não nos têm faltado exemplos de que o trabalho militante pode ser o mais bem feito.
Por isso Vermelho anuncia: temos vagas.
Muitas e muitas vagas, para homens e mulheres de todas as idades, de todos os recantos do Brasil, e também de fora.
Vagas para as inteligências, as sensibilidades, os talentos.
Vagas para quem julgue necessário um portal assim e se disponha a ajudar o dia a nascer, pela pura e prazerosa certeza de que a treva já durou demais.
São Paulo, 25 de março de 2002.
Bernardo Joffily, pela equipe do Vermelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário