quarta-feira, 1 de abril de 2015

"AO HOMEM QUE MATOU MEU CACHORRO"

Quando o cachorro de Richard Joseph foi morto por um motorista que nem parou para ver o que havia acontecido ou prestar socorro ao animal, ele escreveu uma carta para o Town Crier and Herald, de Westport, estado de Connecticut, nos seguintes termos:

Espero que V. S. estivesse a caminho de algum lugar importante quando passou pela estrada tão depressa, na noite de terça-feira. 
Talvez nos sentíssemos mais consolados se pudéssemos supor que era um médico indo às pressas fazer um parto ou aliviar a dor de alguém.
A vida de nosso cão para diminuir o sofrimento de alguém; isso poderia consolar um pouco.
Mas embora não víssemos senão a sombra escura do seu carro e a trepidação das luzes traseiras quando o senhor seguiu disparado pela estrada, conhecemos muito o seu tipo para acreditar que assim fosse.
V. S. viu o cachorro, pisou no freio, sentiu um baque, ouviu um gemido e depois o grito de minha mulher.
Sabemos que seus reflexos são bons, porque V. S. logo meteu o pé no acelerador e foi-se embora depressa.
Seja V. S. quem for, é um assassino e, nas suas mãos, a julgar pela sua maneira de dirigir na terça-feira à noite, seu carro é uma arma assassina.
Como V. S. não se preocupou em olhar, eu lhe direi o que significaram o gemido e o baque. 
Significaram a vida de Vicky, um pequeno basset de seis meses: branco, com manchas castanhas e pretas. Um aristocrata, com doze campeões entre seus antepassados; mas brincava e corria atrás das coisas e amava as pessoas, as crianças e outros cachorros tanto quanto qualquer vira-lata deste mundo.
Lamento que V. S. não tenha parado para ver o serviço que fez, embora um cachorro morrendo á beira de uma estrada não seja coisa agradável de se ver.
Em menos de dois segundos, V. S. transformou um ser vivo, que era belo, quente, limpo, macio e afetuoso, numa coisa suja, feia, estraçalhada e sangrenta.
Espero que, no momento em que atropelou meu cachorro, V. S. tenha sentido, por um segundo aquela dolorosa sensação de náusea que nós nunca mais deixamos de sentir. 
E que V. S. a sinta de novo, cada vez que pensar em dirigir com velocidade numa estrada cheia de curvas.
Sim, porque da próxima vez algum menino de oito anos pode estar se equilibrando na sua primeira bicicleta. Ou uma criancinha pequena pode cruzar o portão e sair para a estrada, sem saber o que faz, no instante que seu pai curva-se para arrancar uma erva daninha, como aconteceu quando meu cachorrinho se afastou de mim.
Ou talvez V. S. tenha outra vez muita sorte e mate apenas outro cachorro, deixando outra família desolada.

Citado em This Week Magazine, copyright, 1955, da United Newspapers Magazine Corp, conforme a revista Seleções do Reader`s Digest.

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