domingo, 10 de julho de 2016

PRESOS CORREM RISCO DE MORTE AO DIVIDIREM CELAS COM DOENTES MENTAIS

Doentes mentais e presos comuns dividem celas
10/07/16/José Antonio Rosa joseantonio.rosa@jcruzeiro.com.br

A prisão do paciente psiquiátrico Marcio José Moreira - o Marcio Capeta - foi uma das -- se não a única --, prisão nos últimos anos em Sorocaba a contar com recomendação de isolamento fundamentada em restrição médica. 
Ele foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) e aguarda, isolado, a realização de perícia que comprove seu estado para, aí sim, ser transferido a um hospital especializado e dar sequência ao tratamento.
Em regra, os doentes mentais recolhidos às unidades prisionais entram no sistema como acusados pela prática de crimes simples e recebem o tratamento de presos comuns. 
Nem mesmo uma referência ao seu estado é apresentada ou comunicada. 
A insanidade na maioria das vezes só é considerada a partir de informação prestada por familiares.
A denúncia, que coloca um ingrediente a mais na já complicada situação do atendimento à saúde mental em Sorocaba, foi feita ontem pelo Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional no Estado de São Paulo (Sifupesp). 
O diretor de comunicação da entidade, Adriano Rodrigues dos Santos, disse que o problema ocorre já há algum tempo e não apenas na cidade.
Ele informou que, em quinze anos de profissão, nunca antes tinha testemunhado uma detenção de doente mental que resultasse em isolamento. 
A situação coloca em risco a segurança dos próprios agentes que não recebem treinamento para trabalhar com detentos que apresentem esse perfil.
O Sifupesp não dispõe de dados que possam determinar quantos indivíduos incapazes mentalmente estão recolhidos nas três unidades do sistema penitenciário local, até porque as estatísticas não são divulgadas, por medida de segurança. Santos afirmou que os próprios encarcerados correm perigo.
---------------- "Imagine um detento nessa condição que divide a cela com 40 outros. Se ele tiver um surto psicótico, ou se comportar de maneira estranha, pode ser agredido ou, pior ainda, até morto. Estamos hoje, todos, em barris de pólvora que podem explodir a qualquer momento, mas as autoridades parecem não querer entender a gravidade do quadro".
Em Sorocaba particularmente ainda não foi registrada nenhuma ocorrência que vitimasse agente penitenciário, mas em Guareí profissionais já foram agredidos. 
------------------ "A verdade é que não somos preparados para lidar com esse público e não sabemos como agir diante de uma emergência", disse o diretor do Sifupesp.
A situação assume gravidade ainda maior quando se sabe que até na elaboração de flagrantes em distritos policiais não existe, conforme o sindicato, preocupação em anotar se o acusado é, ou não, portador de problemas psiquiátricos. 
------------- "A consequência disso tudo, conclui Adriano, é que tanto fora quanto dentro da cadeia, o doente mental está exposto e expõe a vida dos outros a risco. Lá, porque a família não pode cuidar e o poder público se omite; aqui, porque convive com pessoas tão ou mais perigosas do que ele".

 

Nenhum comentário: