Motivo de vergonha para os brasileiros, discurso de Bolsonaro na ONU é ode ao absurdo e ao despreparo
Por Redação Ucho.Info/23 de setembro de 2020.
Nove entre dez néscios que se aventuram na política usam discursos boquirrotos para atacar a imprensa, especial quando são alçados à mira das críticas.
O presidente Jair Bolsonaro, que discursou na abertura da 75ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (22), disse que se a imprensa está a criticar sua fala é porque o pronunciamento foi bom.
Bolsonaro, que desconhece o mais raso significado de humildade, até porque sua soberba chega a ser nauseante, prefere fazer ouvidos moucos para a enxurrada de críticas que surgem de todas as partes do planeta, pois sua fala flanou nos ares do devaneio.
Na edição desta terça-feira, o UCHO.INFO publicou matérias com análises pontuais sobre trechos do discurso do presidente da República, mas ainda sim merece destaque a afirmação delirante que envolve religião e Estado.
Por desconhecer os artigos 5º (inciso VI) e 19 (inciso I) da Constituição Federal de 1988, Bolsonaro sentiu-se à vontade para emoldurar o Estado brasileiro com os dogmas do cristianismo, como se a laicidade fosse letra morta no texto constitucional.
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Inciso VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias.”
Art. 19 – É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
Inciso I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
O presidente ousou afirmar que “a liberdade é o bem maior da humanidade”, mas preferiu esquecer seu apoio aos protestos antidemocráticos e as ameaças feitas ao Judiciário e ao Legislativo, apenas porque foi contrariado em seus interesses. Ou seja, para Bolsonaro a liberdade é primordial, desde que ele permaneça na zona de conforto.
Nesse trecho do discurso, o presidente pediu que comunidade internacional combata a cristofobia, sugerindo de forma mentirosa que no Brasil os cristãos são alvo de perseguições e impedidos de professar a fé.
Na verdade, a perseguição se dá por parte dos fundamentalistas evangélicos, os quais engrossam a horda de apoiadores de Bolsonaro. Basta voltar no tempo e conferir as reações dos evangélicos diante do aborto legal a que se submeteu uma garota de 10 anos estuprada pelo tio.
Mais uma vez, ignorando que a Carta Magna estabelece que o Estado é laico, Bolsonaro afirmou, ao final do seu patético discurso, que “o Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”.
A exemplo do que ocorreu na edição anterior da Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro abriu mão da oportunidade de falar à comunidade internacional para dirigir a palavra aos seus eleitores, já que, sem jamais ter descido do palanque de 2018, está debruçado em seu projeto de reeleição.
E manter coesa a insana e descontrolada base de apoio parece ser mais importante do que defender os interesses do País.
Afirmar que o Brasil é um país cristão beira o delírio, pois sabe-se que a liberdade religiosa e de crença é garantida pela Carta Magna.
Além disso, Bolsonaro foi eleito para governar para todos os brasileiros, evangélicos ou não.
De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os cristãos representam 86,8% da população brasileira, sendo que 64,6% são católicos. Os evangélicos, segundo levantamento de uma década atrás, somam 43 milhões, algo como 20% do contingente populacional.
Em relação ao fato de o Brasil ser um país que tem a família como base, Bolsonaro não é a pessoa mais indicada para discorrer sobre o tema.
Afinal, a família tradicional e conservadora, como sugeriu o presidente em seu discurso, abomina quem casa-se mais de uma vez e usa apartamento funcional do Parlamento para “comer gente”.
Ademais, Bolsonaro precisa explicar aos brasileiros que conservadorismo é esse que consente que um ex-assessor parlamentar deposite dinheiro de origem suspeita na conta bancária da primeira-dama.
No tocante a ser aparentemente adepto do cristianismo, como demonstra em declarações e aparições públicas de encomenda, Bolsonaro deveria penitenciar-se, já que um cristão de fato jamais dirá a uma mulher que deixará de estuprá-la por ser feia e não merecer, como fez com a deputada federal Maria do Rosário.
Contudo, os destampatórios de Bolsonaro não se limitaram à seara da fé e do suposto conservadorismo.
Avançou no terreno das relações internacionais e dos investimentos estrangeiros no Brasil.
No campo das relações entre países, o presidente exaltou o esforço do homólogo americano, Donald Trump, para alcançar a paz entre israelenses e palestinos.
Bolsonaro referiu-se à formalização das relações diplomáticas entre Israel, Emirados Árabes e Bahrein, algo que já existia de forma não oficial. Falar em acordo de paz entre essas três nações é um absurdo, pois não se sela um pacto dessa natureza entre países que jamais estiveram em guerra. Não obstante, o “salamaleque” oficial em questão só serviu para acirrar as beligerantes disputas entre israelenses e palestinos. Como quem liderou esse processo foi Donald Trump, maiores explicações são desnecessárias.
Com referência aos investimentos internacionais no Brasil, Bolsonaro disse que “no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo”.
O presidente tem o direito de falar inverdades e passar vergonha sozinho, mas não pode impor ao povo brasileiro vexames colossais.
Na comparação com o primeiro semestre de 2019, a queda nos investimentos estrangeiros no Brasil foi de 30% (caiu de US$ 36,4 bilhões para US$ 25,5 bilhões).
Isso porque os absurdos praticados pelo governo nos últimos vinte meses reduziram a atratividade do Brasil como destino de investimentos.
Afinal, investidores, grandes empresas e empresários de todo o planeta passaram a dar importância ao meio ambiente e ao bem-estar social antes de abrirem os cofres.
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