sexta-feira, 27 de julho de 2012

A BANDA PERDIDA.


A professorinha recém formada em Itapetininga, Zenith Galvão Terra, teve seu primeiro trabalho educativo em São Miguel Arcanjo, no Bairro de Guararema, lá pelos anos 1.946/ 1.947.
Coube-lhe uma escola mista.
Ela mesma contava que o ônibus a deixava uns dez quilômetros distante da escola e tinha que percorrer esse trecho a pé, sujeita ao ataque de andantes, com seus sacos às costas, e de animais selvagens, inclusive onça, como afirmavam os moradores . Mas não havia outro jeito. Pior quando chovia e a estrada ficava intransitável.
Foi numa dessas manhãs, caminhando tranqüilamente sob o sol ameno de abril que ela ouviu uma orquestra maravilhosa, uns sons extraordinários que pareciam vir lá da sua escolinha, ainda distante alguns quilômetros.
Estranhou bastante, apressou o passo. Pensou que poderia ter sido uma brincadeira no dia do seu aniversário, mas...nem era seu natalício!  Algum rádio? Mas ali não havia casa alguma, era só capoeira alta!
Que coisa!
Sobressaltada, o coração pulando dentro do peito, foi chegando devagar, devagarzinho, e quanto mais se aproximava, mais a banda silenciava...até que desapareceu.
O dia passou.
Zenith calada, só cogitava. Não expôs à classe nada do que havia presenciado, ao menos, espiritualmente.
Depois da aula, decidiu ir até a venda do Pio Válio, pertinho da capela do lugar. Quem sabe ele poderia explicar, ele que era músico, tocava bandolim e também curava as pessoas de muitos males.
Servindo um copo de água para a mestra, ele ouviu o relato, depois parou e olhou bem nos seus olhos, meio complacente e desconfiado:
- Dona Zenith, eu costumo ouvir essa banda na sua escola, mas só quando engulo umas cachaças a mais, mas...a senhora?
Mais do que assustada, a professora comprou ali na venda mesmo o último crucifixo que havia e pendurou-o para sempre do lado de fora da porta da escola.
Ainda ouviu a tal banda tocar umas três vezes.
Depois, nunca mais, graças a Deus.
Deve ter sido o crucifixo!

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