quinta-feira, 20 de novembro de 2014

“GENTE TEM COR”


“Vim da África;
Nos porões dos navios,
Para trabalhar num estranho país.
Dos meus ancestrais,
Muitos morreram em viagem
E foram jogados ao mar.
Ainda ouço cantigas noturnas
Aguardando as fugas do amanhã;
Ainda busco bênçãos às feridas
Que não cicatrizam
De jeito nenhum.

O estranho país continua sendo estranho,
De estranhas criaturas,
Pobres e ricas,
Vermelhas e amarelas,
De negros quase brancos,
Todos iguais,
Da escravidão à luxúria.

Mas se gente tem nome,
Sobrenome,
Tem tamanho,
Tem cheiro,
Tem cor,
Então pode transformar
o bem e o mal.

Por sobre o oceano do passado,
Meu presente é a fortaleza do amanhã
Que transformará a dor em alegria,
A tristeza em exaltação.
Bendito o que vem do coração!"


Poesia de Odirlei Válio da Conceição, meu filho, cujo pai é negro. Com esta obra, Odirlei - pseudônimo Rasputim - foi vencedor num concurso instituído pela Câmara Municipal de São Miguel no ano de 2003 em comemoração aos 114 anos de emancipação político-administrativa do município. 
Avaliaram os trabalhos as professoras: Maria de Lurdes Carvalho, Eneida Maria Gatti, Nândia T. A. P. Alvim, Luiz Carlos Arantes Barbosa e Alice Arantes Galvão. 
O presidente da Câmara era o prefeito de hoje, Tsuoshi José Kodawara, o qual, diante da plateia que assistia a premiação, prometera q
ue o Legislativo continuaria editando o concurso de poesias, anualmente, coisa que nunca mais aconteceu.

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