sábado, 7 de março de 2015

EDNA TANAKA: DEPOIMENTO DE UMA JAPONESA QUE VIVEU NA COLÔNIA PINHAL, EM SÃO MIGUEL ARCANJO

Mudamos do Paraná e nos estabelecemos na Colônia Pinhal, bairro que pertence ao município de São Miguel Arcanjo, numa casa de pau-a-pique, chão de terra batida, poucos recursos, mas muita coragem e disposição para tornar a propriedade, adquirida com muito trabalho, em residência fixa.
A Colônia Pinhal oferecia uma boa estrutura, com uma escola primária municipal, uma escola de língua japonesa e uma associação nomeada para reger a comunidade.
Ingressei na escola municipal e na escola de língua japonesa aos 7 anos de idade, numa época em que não estava ainda instituído a pré-escola e, aos poucos, fui percebendo que eu e meus dois irmãos mais velhos éramos discriminados pelos colegas descendentes por falar a língua nativa. Situação incompreensível para uma criança que até então convivera em harmonia com os não descendentes, e justamente na situação em que se esperava uma maior aceitação por pertencer a um grupo formado por filhos de imigrantes, nascidos em terras brasileiras, isso não ocorria.
Lembranças de agressões verbais e físicas sofridas nessa época assemelham-se a filmes, tão claras vêm à memória; o mais afetado foi meu irmão e nem por isso meus pais interferiram diretamente; tínhamos que superar com muita dignidade e coragem o período de adaptação à convivência numa colônia.
Uma das consequências foi o abandono da escola de língua japonesa.
Sequelas?
Sim.
A introspecção é a mais explícita delas e a insegurança se fez e faz muito presente em ambientes em que hajam pessoas reunidas como, por exemplo, a escola.
A necessidade de formar colônias para manter os costumes., a língua e os hábitos do país de origem e de unirem forças perante o desconhecido (sociedade brasileira) dificultou a adaptação dos descendentes, principalmente daqueles cujo os pais resistiam à permanência definitiva no Brasil.
Isso tornou-se claro ao ingressar no curso ginasial da cidade, ocorrendo uma inversão de papéis; aqueles que oprimiram tornaram-se minoria e começaram a sofrer gozações por colegas que achavam engraçada a dificuldade que apresentavam em pronunciar certas palavras devido à ausência das letras L e V no alfabeto japonês. 
Assim, a aceitação de nossa família na comunidade ocorreu de forma gradativa, sem que alterássemos nosso modo de ser, pois as famílias foram se adaptando à cultura brasileira na medida em que os filhos saíam da comunidade para estudar na cidade.
Trabalhei durante um ano na Cooperativa da comunidade antes de migrar para São Paulo para atuar como vendedora, pois não havia passado em vestibular.
Após um curto período de tempo, consegui bolsa para estudar em cursinho á noite e dessa forma pude ingressar na Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Assis da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) para iniciar o curso de Psicologia, no ano de 1989.

Trechinho da Tese/Dissertação acerca de A volta dos filhos de dekassegui ao Brasil: escolaridade, dificuldades e superação, apresentada por Edna Tanaka à Banca Examinadora da PUC/SP, como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação no ano de 2009.
A autora dedicou o trabalho aos sobrinhos: Yuki, Seiji, July, Larissa e Gustavo, como incentivo para o futuro. 
Pais de Edna: Senhor Tanaka e Yoko.
O casal teve 5 filhos.
O pai viveu em Suzano, depois Mirandópolis, depois Novo Paraíso, onde conheceu Yoko, depois a família viveu durante sete anos no Paraná, antes de chegar a São Miguel Arcanjo.

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