quinta-feira, 12 de novembro de 2015

"MEDO DO ESCURO" - SÉRGIO VAZ

 
Medo do escuro 
- Sérgio Vaz -

As nuvens cinzas e pesadas
assombram tua plantação,
tuas sementes assustadas
com o barulho do trovão
choram caladas
com os pés atolados no chão.
Eu estendo a mão,
mas você não floresce
você não vêm.
.
No matagal o capitão-do-mato
se espalha feito joio no trigo
o pão tem o gosto horrível da escravidão
e o chicote estrala
na tua boca vazia
que se cala.
E eu te empresto as costas,
minha pele exposta...
mas você não vem,
não dá respostas.
.
Uma canção doce e alegre
que fala da tua tristeza
entra pelos teus ouvidos
e você ri, e dança
em torno de si mesma
soterrada em lágrimas pelo salão.
Num sussurro desafinado
imploro ao teus pés,
mas você não cansa,
é mansa
e também não vem.
.
A ventania
destelha teu coração.
Sem sentimento,
você ama sem amar
e de mãos dadas
caminha saltitante com a solidão
nas ruas esburacadas à procura de um lar.
Eu abro as portas,
mas você não vem, é torta
não quer entrar.
.
A Vida dói
como uma faca enferrujada na garganta
e você,
Alice no país das maravilhas,
covarde como um leão
foge das hienas
para dentro da densa selva.
Abatida
eu lambo
tuas feridas,
mas você não vem
não me cicatriza.
.
Uma manhã mal dormida
acorda no meio da noite
e percebe que está sem estrela.
Na ausência de brilho
um vaga-lume
risca um poema
sob a névoa trêmula
que vai além.
Você não lê,
não vem,
mas está escrito:
" eu tenho medo também."

- do blog homônimo do livro acima - 

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