Em 1941, um grupo de acadêmicos patrocinou a admissão de Getúlio Vargas na Academia Brasileira de Letras. A eleição foi tranquila mas o eleito só tomou posse, recebido pelo ministro Ataulfo de Paiva, em 29 de dezembro de 1943.
A obra literária do presidente compreendia apenas alguns discursos de natureza política em sua maior parte, que vieram a ser reunidos, muitos sem autoria definida, em A Nova Política do Brasil.
No seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Getúlio Vargas confessou honestamente suas limitações no campo da literatura:
------------- “A atividade intelectual é para mim uma imposição da vida política, que exige de quem a ela se consagra a obrigação de comunicar-se com o público com precisão e clareza, explicando ideias e problemas de governo, esforçando-se para fazer-se ouvir e compreender.”
Abaixo, a carta de agradecimento pelo convite e a aceitação para concorrer.
Abaixo, o testamento antes do suicídio.
CARTA TESTAMENTO
Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo condenaram-me novamente, e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa.
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto.
Depois de decênios, de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
Iniciei o trabalho de liberação e instaurei o regime de liberdade social.
Tive de renunciar.
Voltei ao governo nos braços do povo.
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.
A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso.
Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação de avoluma.
A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero.
Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho.
Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano.
Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de cem milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue.
Se as aves de rapina querem um sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.
Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chamada imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória.
Era escravo do povo e hoje me liberto para vida eterna.
Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil.
Lutei contra a espoliação do Brasil.
Lutei contra a espoliação do povo.
Tenho lutado de peito aberto.
O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo.
Eu vos dei a minha vida.
Agora ofereço a minha morte.
Nada receio.
Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
(Diário de Notícias, 24 de agosto de 1954)
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