terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MINHA VIZINHA TEM CÂNCER

Notícia que acaba derrubando a gente é saber que alguém contraiu um câncer e então ela deve começar a tratar o corpo de forma completamente diferente para expulsar essa doença que mina, mais do que o órgão afetado, a vontade de viver.
Mais doloroso ainda é ter um parente sofrendo sob o estigma desse mal, porque nem ele e muito menos quem está de fora imagina qual seja o primeiro passo, a primeira ação, os sentimentos que se alinham camuflados uns nos outros como um camaleão.
Deus é grande.
Sob essa força adversa, aprende-se que neste mundo nada é definitivo, que os dias vão caminhar, uns atrás dos outros, que as estações do ano vão continuar trazendo flores e frutos e cores e felicidade, que outras pessoas também tem suas histórias, que todos gozam em dias de luz e agonizam em dias de desespero, que um dia se está triste, mas noutros se quer alegria e companhias.
Hoje, ouvi o filhinho de uma senhora que tem câncer na minha rua dizer que a mãe vai raspar a cabeça, que ela vai ficar careca.
Daqui, envio um consolo para ela e a família dela: minha irmã já passou por essa fase; ficou sem os cabelos e outros cabelos mais fortes e bonitos nasceram.
Tratando-se religiosamente como tem que ser feito, que ela tenha a mesma sorte da minha irmã, que remoçou, ficou mais bonita, tem ânimo para viver e cuidar da casa, das roupas, dos filhos já moços, ela que estava um pouco destreinada, pois sempre trabalhando fora.
O primeiro impacto dessa doença é sempre o pior: quando se dá o conhecimento dela.
Então, o mundo cai, a pessoa se revolta, não quer aceitar, porque nada parece ser o que já foi.
Vem o medo das noites intermináveis, o cogitar das possíveis dores, o choro e o desespero, o não poder viver sem remédios, o cuidado para não deixar instalar-se nem uma gripe, comer regradamente, porque o organismo enfraquece com a quimioterapia e perde bastante da natural imunidade.
Mas depois que os cabelos caem, tudo vai ficando melhor.
Acostuma-se com outra imagem ao espelho, aquela que usa um lenço florido ou uma peruca esquisita.
O xodó pelos antigos cabelos vai se tornando bobagem, se acaba.
Nasce no coração do doente uma força que suplanta todos os sofrimentos de uma vida inteira, aliás, a pessoa nem se lembra mais que um dia a luta pela vida, lá atrás, fora tão difícil.
Aprende-se a viver, a seguir vivendo, dia após dia, vivendo e curtindo o amor às mínimas coisinhas às quais se possa dizer que são suas, com as graças de Deus e Nossa Senhora Aparecida.
Amém!
 

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