terça-feira, 24 de abril de 2018

CAMINHOS DE SÃO TOMÉ
















Caminho feito no Brasil por santo do “ver para crer” vira roteiro turístico num pacote que reúne fé e aventura.
O Brasil já tem a sua versão do célebre Caminho de Santiago de Compostela na Espanha. 
Um novo roteiro de peregrinação, envolto por lendas religiosas, une-se a um pacote de aventuras em meio às matas e paisagens da Mata Atlântica que cercam o Parque Estadual Carlos Botelho, e entre pastagens, plantações, bosques, rios, as nascentes do Rio Paranapanema e lugares lendários com a Serra da Macaca. 
São 200 quilômetros dentro do Estado de São Paulo, que ligam a cidade de Capão Bonito ao município histórico de Iguape, no litoral sul paulista, e passam ainda por outras cidades como São Miguel Arcanjo, Sete Barras, Registro e Pariquera- Açu.
O caminho já existe há mais de 100 anos e é utilizado como rota por peregrinos e devotos de Bom Jesus de Iguape e para consolidá-lo como produto turístico, a Prefeitura Municipal de Capão Bonito, com base nas pesquisas do historiador Juraci Braz das Chagas, 65 anos, o batizou de Caminhos de São Tomé - o apóstolo que duvidou da ressurreição de Jesus Cristo (vem daí o bordão “ver para crer”). 
Conforme o levantamento histórico, São Tomé teria passado pela região numa missão catequizadora e se tornado um dos primeiros homens do velho mundo a pisar nas Américas.
Não há precisão nas datas, mas após analisar os documentos e os mapas traçados pelos primeiros jesuítas que estiveram no Brasil, Chagas chegou à conclusão de que ao invés de se dedicar às missões do cristianismo na Europa e no Oriente, como os demais apóstolos de Cristo, São Tomé, o teimoso, teria optado por desbravar novos mundos. 
A tese defendida pelo historiador de Capão Bonito também se baseia em relatos escritos por jesuítas portugueses que chegaram entre os anos de 1502 e 1506.
Para Juraci Chagas, os religiosos encontraram os índios guaranis com ideias monoteístas e noções de catolicismo, e os ensinamentos eram atribuídos a um tal de “Pai Sumé”, descrito como homem alto de barbas grandes, roupas de linha e cinto de couro. 
Seria, segundo os jesuítas, o apostolo Tomé.
Outra vertente do historiador que se relaciona com a passagem de São Tomé pela região sul paulista está concentrada no Caminho do Peabiru – uma trilha indígena do período pré-descobrimento que ligava o sul do Peru ao litoral do Estado de São Paulo. 
Uma hipótese levantada por Chagas e baseada em desenhos de flechas lapidados em pedras, é de que os índios não se fixavam por essa região, mas apenas passavam em determinadas épocas do ano em busca de presas. 
O Caminho do Peabiru (caminho da montanha do sol) passava pelas nascentes do Rio Paranapanema, em Capão Bonito e seguia até o Peru, e isso comprova que antes da chegada dos homens brancos por essas bandas, os índios já utilizavam o caminho, porém, essa trilha indígena foi fechada por Tomé de Souza em 1653 para evitar uma possível invasão dos espanhóis, que acreditavam que o corte separativo do Tratado de Tordesilhas se dava na cidade de Iguape. 
O caminho foi reaberto em 1693 para facilitar o comércio entre os Estados de São Paulo e Paraná – hoje atual SP 250.

Caminhos de São Tomé 
O caminho que traz fé e aventura começa na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Capão Bonito, onde o peregrino tem a opção de registrar o início do passeio em uma espécie de passaporte, e a chegada é em outro templo religioso: a tradicional Igreja de Bom Jesus da cidade de Iguape. 
Quem escolher a caminhada a pé, a duração é de cinco dias. Há também aqueles que preferem outros meios de transporte mais rápidos como o cavalo ou de bicicleta.
O primeiro trecho vai do centro de Capão Bonito à zona rural de São Miguel Arcanjo, com pequenas capelas católicas pelo caminho, como a da comunidade rural Taquaral Abaixo, e muitas parreiras de uva Itália, principalmente no inverno. 
No segundo, os caminhantes percorrem a estrada do parque estadual Carlos Botelho, com 37 mil hectares de floresta e atrações como corredeiras do rio Taquaral, pontes históricas, cachoeiras, aves e animais. 
O trecho seguinte contempla a descida da Serra da Macaca, onde durante a Ditadura Militar o revolucionário Capitão Lamarca escapou de um cerco de milhares de militares, e que também abrigou combatentes paulistas da Revolução de 32 em suas cavernas e esconderijos.
Na sequência, os peregrinos caminham pelos bananais do município de Sete Barras até a cidade de Registro. 
A rota prossegue pelas margens do rio Ribeira de Iguape até Pariquera-Açu, e a peregrinação termina no centro histórico de Iguape, que ainda conserva um grande número de casarões tombados como patrimônio histórico do Estado de São Paulo.
O servidor público Darci de Freitas, 48 anos, pertence ao grupo de peregrinos denominado Grupo Fé no Santo que percorre essa rota há mais de 20 anos. Ele conta que a primeira parte do trecho é mais difícil, pois segundo ele, “o corpo ainda não está acostumado”. “Caminhamos o dia todo e quando anoitece a primeira coisa a se fazer é tirar o tênis e descansar os pés”, conta.
Freitas relata ainda que o trajeto é feito sempre em grupo de 10 a 20 pessoas, e para não carregar mochilas com alimentos e equipamentos e evitar o peso nas costas, os caminhantes contam com o apoio de um caminhão que carrega tudo o que necessitam para realizar a peregrinação. 
Conhecedor de cada curva do trajeto, ele oferece algumas dicas valiosas para os principiantes: “Para fazer a caminhada, a coisa mais importante são os pés. Para que tudo saia bem, é preciso usar tênis confortável e duas meias”, sugere.
No caminho, não há hotéis de luxo e muito menos restaurantes finos. São uma ou outra pousada rústica e pequenos comércios como bares e lanchonetes. 
As acomodações e as comidas são simples, o que torna a peregrinação mais atraente e diferente dos aconchegantes pacotes turísticos pelo mundo afora. 
Nesse passeio, o som dos acordes operísticos de Giuseppe Verdi é substituído pela assoviar dos pássaros que enriquecem o cenário.
A principal atração dessa peregrinação não está relacionada a prédios, museus, teatros..., mas sim a algo meramente subjetivo, e que todo ser humano procura. E isso passa muitas vezes por caminhos estranhos, nada convencionais. 
Essa busca chama-se: PAZ.
Fonte: Blog do Francisco Lino/2015.

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