Artigo do Frei Clemente Rojão
- Sabe, frei, eu não fico lendo nem vendo estas coisas de religião e filosofia, não quero ser influenciado por nada.
- Era uma vez um fazendeiro ecologista, que tinha muito ciúme e preocupação com suas terras recém-compradas, porque eram ótimas.
Ele não queria adubar, porque temia que o adubo químico estragasse a terra.
Ele não queria fazer pastagens, porque pastagem judiava do solo.
Ele não queria plantar café, porque café sugava a terra.
Ele não queria plantar cana, porque onde dava cana não dava mais nada.
Ele não queria plantar eucalipto, porque eucalipto tirava toda a água da terra.
Ele não queria fazer um pomar de laranja porque formava árvores e raízes difíceis de tirar.
Ele não queria fazer videiras, porque teria de colocar calcário na terra mexendo com o ph do solo.
Ele não queria milho, porque enchia a terra de resto de silagem depois da colheita.
Enfim, ele tinha tanto medo de estragar a terra boa com alguma cultura que não fez nada com a terra.
- E aí?
- E aí que nasceu mato: capim, tiririca, mamona, um matão feio.
Você quer se manter livre de influências da religião e filosofia, mas a sua cabeça não fica vazia.
O que você não põe nela, outras coisas entram por si só.
O tempo todo a TV, os amigos, as revistas, as músicas, o mundo, suas próprias ideias desordenadas estão jogando porcaria na sua cabeça, e o mato está crescendo e crescendo feio.
Você tem medo do efeito colateral do eucalipto, do milho, do café, da cana, da laranja, da uva, do pasto e não vê que o pior é o mato de uma mente vazia, a verdadeira oficina do Capeta. Você tem tanto medo de se influenciar que se deixa influenciar por coisas piores e mais desordenadas ainda.
Você deixou de cuidar da sua formação e está deixando que os outros te formem, ou melhor, te deformem.
Não é a toa que "cultura" vem de "cultivo": ou você planta por si só algo entre suas orelhas, ou vai crescer mato, e mato bravo.
Fonte: www.freirojao.com.br
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