sábado, 26 de outubro de 2019

LÁ VEM HISTÓRIA: O GEÓLOGO AMERICANO JAMES MONROE KEITH E AS CABECEIRAS DO TURVINHO.

Quem deixou alguma coisa escrita sobre este geólogo americano radicado em São Miguel Arcanjo foi o Major Luiz Válio, meu avô, sob o pseudônimo de J. Severo, nas páginas do periódico “ O Progresso”.
Dito americano andou percorrendo a Província de São Paulo em todos os sentidos, estudando-lhe o subsolo e descobrindo coisas maravilhosas.
Acreditava James que o Brasil encerrava nas suas entranhas tesouros mais maravilhosos que os antigos contos de fadas, não sendo preciso nem a lâmpada de Aladim e nem a alavanca de Rockfeller ou a perspicácia comercial dos Rotchilds para trazê-los à superfície e transformá-los em moedas sonantes, com as quais tornariam nosso povo livre perante os meios financeiros internacionais.
James combatera de armas em punho contra o governo de Lincoln na célebre Guerra de Secessão - a famosa guerra civil entre os americanos do norte e do sul durante o mandato de Lincoln (1.861-1.865). 
Foi este, aliás, o principal motivo de ter deixado a América do Norte.
Segundo J. Severo, James era meigo e simpático, e possuía o que quer que fosse de atraente; conheceu o pai do escritor, Dom Francisco Domingos Vito Paschoal Válio Trombetti, em 1.869. 
Nessa época, Domingos Trombetti já residia e tinha sua propriedade na estrada do Turvo, em São Miguel Arcanjo.
Foi em 1.870 que James comprou um sítio na antiga Fazenda Velha. 
Em 1.889, com a emancipação político - administrativa do município, naturalizou-se brasileiro, qualificando-se como eleitor e votando com o Partido Dissidente fundado por Prudente de Moraes.
James deve ter falecido na década de 20.
Na edição de 23 de outubro de 1.923 do jornal Tribuna Popular, de Itapetininga, lá se vê o extenso edital de arrematação de seus bens, já que havia falecido sem deixar herdeiros.
Esses bens estavam livres e desembaraçados de quaisquer ônus e eram os seguintes:
- Um sítio de terras lavradias em matas virgens, alguns pedaços de terras inferiores e com diversas camadas de jazidas auríferas que revestem as margens de vários de seus ribeirões, com alguns ranchos em ruínas, que são as únicas benfeitorias existentes, sítio esse denominado “Cabeceiras do Turvinho”, no município de São Miguel Arcanjo, cujas terras se acham abrangidas pelas vertentes dos Ribeirões São Domingos, Grande, Albano, Bom Sucesso, Lavrinhas e outros menores confluentes 
do Rio Turvinho, compreendidos dentro das divisas seguintes: a principiar na margem do Rio Turvinho, na ponta do Espigão Mestre, que forma as vertentes entre os Ribeirões São Domingos e Grande e aí na direção sul segue a divisa por este Espigão até o alto da Serra do Paranapiacaba e daí segue a divisa pelo oriente na direção de dita Serra, abrangendo todas as águas vertentes dos Ribeirões São Domingos, Bom Sucesso e Albano até frontear o Espigão que forma as vertentes entre dito Ribeirão Albano, da Lavrinha e do Passarão, daí em direção ao este pelo Espigão que abrange as águas do Ribeirão Albano e do Rio Turvinho até frontear o ponto de partida, donde desce em direção ao mesmo Rio Turvinho, sendo que são confrontantes das terras descritas alguns terrenos devolutos e algumas pessoas cujos nomes são ignorados; os Ribeirões Albano e Bom Sucesso, de água especial, contam muitos córregos e nascentes que banham as terras marginais, com algumas cachoeiras, e nos leitos e margens de ditos Ribeirões, em vários lugares, contém jazidas e cascalhos auríferos e outros minerais aproveitáveis; as terras são revestidas de capoeiras e matas virgens, contendo madeira de lei, próprias para culturas de cereais e gramíneas, em alguns lugares férteis e em outros mais fracos, calculados em 2.100 (dois mil e cem) alqueires, que foram avaliados à razão de trinta e cinco mil réis o alqueire, pelo preço total de 73:500$000 ( setenta e três contos e quinhentos mil réis). As jazidas auríferas verificadas às margens dos Ribeirões Bom Sucesso e Albano, estimadas pelo preço e quantia de vinte contos de réis (20:000$000). Os quatro ranchos toscos foram avaliados em 8 mil réis e todos pelo preço de 93 contos, quinhentos e oito mil réis (93:508$000).
Os bens descritos e avaliados foram à primeira praça por aquele valor total, e não encontrando licitante, vão a esta segunda praça no lugar, dia e hora designados.
O Juiz de Direito da comarca de Itapetininga, o Dr. Esaú Corrêa de Almeida Moraes.
Cerca de um ano depois, um indivíduo de nome ANTONIO EXEB requereu habilitação de crédito para requerer o Espólio arrecadado por falecimento de James.
Parece que lhe foi negado.
A verdade é que as terras que pertenceram ao geólogo americano JAMES MONROE KEITH acabaram ficando para a Fazenda do Estado, segundo propalava a imprensa da época no ano de 1.929. 
A posse das terras ainda se discutia no próprio inventário dele.
QUEM REALMENTE TOMOU POSSE DESSAS TERRAS?
SERIAM MESMO ESPECIAIS AS ÁGUAS QUE BROTAVAM DOS RIBEIRÕES ALBANO E BOM SUCESSO?
James Monroe Keith, segundo se pode ver no edital acima referido, mantinha a posse de terras onde se localizavam os Ribeirões Albano e Bom Sucesso, de água especial.
SERIAM DE JAMES TAIS TERRAS?
Consta da Revista do Instituto Histórico e Genealógico de S. Paulo, bem à página 125, explicações dadas por Dona Augusta Galvão:
“ Em 1.868, aqui chegou um norte-americano - James Monroe Keith - o qual foi logo admitido como amigo da família. Este senhor andou explorando os sertões desta zona e achou que uma parte dele lhe serviria para trabalhos de mineração. Sabendo que o Tenente Urias tinha posse no dito sertão, entraram em negociações e adquiriu uma parte do Sítio Boa Vista, cuja divisa ficou sendo por uma serra denominada Fartura até a barra do Ribeirão Cachorros Novos, no Rio Verde. Essa transação deu-se em 1.870. Em dezembro de 1.879 faleceu o velho Tenente Urias procedendo-se o inventário dos bens deixados. O inventariante José Galvão não estava bem ao par de tal negócio e pensava que o Tenente Urias havia vendido a James toda a Fazenda Boa Vista. Este, o motivo único da sonegação. As demais fazendas - Ribeirão Fundo, Assungui, parte da Moinho e a de Juquiá, situada na confluência do Rio São Lourenço com o Juquiá, foram inventariadas e consta do inventário procedido na Comarca de Itapetininga em 1.882. É o que se me cumpre informar. Papéis anexos a esta carta: 1 escritura de 1.848, uma carta também de 1.848, 1 carta de Francisco Ribeiro, 1 carta de Antonio Albino de S. Nogueira, um papel de medição do Assungui e uma carta de José Giorge, recebida em resposta à oferta que lhe fiz da cachoeira de que se quis apropriar por meio de ação de usucapião em Iguape, legalmente contestada por nós herdeiros daqui. Sem outros com muita estima e apreço sou a parente muito grata. A) Augusta Galvão.”

OBS: a data da morte do Tenente Urias estaria errada nesta carta de Augusta. Segundo consta, ele faleceu em 1.881, aos 08 de setembro.

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