quinta-feira, 1 de abril de 2021

O ESCRITOR QUE RETEVE NA MEMÓRIA UMA CIDADE INTEIRA!


NÃO DÁ PARA FALAR DO ANIVERSÁRIO DO MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL ARCANJO SEM LEMBRAR DO SEU PASSADO E DAS PESSOAS QUE DE UMA FORMA OU DE OUTRA FIZERAM TUDO PARA DEIXAR IMPRESSOS TRAÇOS DE ALGUNS MORADORES, VIVOS OU MORTOS, QUE AJUDARAM A FAZER O PROGRESSO DO LUGAR.
PORQUE O PROGRESSO DE UM LUGAR NÃO É COISA QUE NENHUM PREFEITO FAZ.
O POVO É QUE É O DONO DO LUGAR.
DENTRE ESSAS PESSOAS, LUIZ VÁLIO JÚNIOR ( O GIJO VÁLIO, O FERDINANDO CIPÓ JR, O RIZADINHA, ETC...), MEU SAUDOSO PAI, AQUI NA PELE DO "RIZADINHA", ONDE ELE CONTAVA A HISTÓRIA DE UM BANCÁRIO TRAVESTIDO DELE MESMO:

DE VOLTA AOS VENTOS UIVANTES
Cheguei.
Cá estou de novo, depois de um pequeno longo tempo em outras paradas.
O banco em que trabalho determinou que eu fosse fazer uns serviços noutra cidade, noutra agência.
Aqui estando, quero, primeiramente, congratular-me com "A Hora" pela passagem de dois anos de sua existência tão bem registrada na edição do dia 13 de agosto de 1989, data do seu aniversário.
O que não gostei nada foi a recepção que me reservou o tal vento do mar - do mal, melhor dizendo.
Vindo de uma terra quente sem o tal, estranhei, e muito, sua ação e o frio que produz.
Como me sentia, quase que constantemente com o pelo arrepiado ao sair de casa, o jeito então era procurar um amigo para tomar umas e outras, a fim de esquentar, óbvio.
Não podia dar outra, pois o amigo, coincidentemente, surge.
E quem era?
O Pedro Pichorra.
Esbarrando comigo, foi logo abrindo seus braços para um aperto profundo, numa demonstração da mais nobre amizade.
Depois da sua corriqueira curiosidade a meu respeito, convidou-me para tomar uns tragos lá na Rodoviária.
Tudo bem.
Por que não?
Meu Deus como ventava no vão que dá estada aos passageiros à espera da condução!
Reclamei ao deus-dará por aquele estado de coisa que parecia um frigorífico de linguiças, mortadelas e costelas de boi.
Ouvindo minhas reclamações, o Pedro Pichorra abriu a boca e começou a tagarelar, uma singularidade sua que às vezes demonstra razão.
- Olha - disse ele -, isto aqui já era para estar fechado, pelo menos o lado sul onde desemboca este vento pesteante. Entra prefeito e sai prefeito e isto continua aberto, parecendo que eles têm uma rixa com o Nestor França seus fregueses. Acho até que há vontade de que eles tenham uma pneumonia.
O Pichorra, depois que manda pros buchos umas e outras, ninguém mais segura sua língua.
O pior é que ele não mede as consequências do que diz.
Foi o que aconteceu nessas alturas.
- Você que vive lambendo o prefeito e os vereadores, que sei que são da sua laia, gente grã-fina, peça pra eles fechar isto aqui antes que o Nestor bata com as dez.
E terminou com um largo sorriso.
Eu já não estava aguentando mais de frio; arrepiado até às costelas, comecei a abusar da danada, e nem acreditei quando um táxi fez ponto: pedi ao seu proprietário que me levasse para casa.
Estava de cara cheia.
O Pichorra ficou, mandando outras com o Ferreirinha e outros, acostumados com o tal vento do mar e o frio que ele produz como um castigo àquela gente que frequenta a estação rodoviária.
Dá para pensar na razão do Pichorra.
Vou falar com o prefeito para ele estudar a possibilidade de concretizar o fechamento do lado sul da Rodoviária.
Faz sentido.
É uma necessidade.
É uma conjuntura viável bastando boa vontade.

( ESCRITO EM AGOSTO/1989 IN A HORA DE SÃO MIGUEL ARCANJO).

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