História de sucesso: a arara-azul voltou a voar (Por Ana La-Salete)
Após duas libertações bem-sucedidas no Brasil, as araras-azuis estão lentamente a ser devolvidas ao seu habitat natural
Guga Noblat
19/12/2022/METRÓPOLES
Reprodução
É a segunda vez que a Associação Alemã para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, na sigla em inglês) permite que as araras-azuis, declaradas extintas há mais de 20 anos, levantem voo.
Seis meses após a libertação de oito araras-azuis em Curaçá, Brasil – onde a última arara-azul selvagem tinha morrido em 2000 –, a organização voltou a juntar-se ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade no Brasil (ICMBio) para libertar mais 12 exemplares desta espécie rara. O objectivo do plano de acção da arara-azul, do ICMBio, é aumentar a população cativa de araras-azuis para depois as reintroduzir no seu habitat natural.
Tal como na última vez, as araras-azuis foram acompanhadas por nove papagaios maracanã, aves nativas que, neste contexto, têm a função de orientar as araras-azuis inexperientes na natureza. De acordo com o comunicado da ACTP, a manhã de sábado foi marcada pela abertura das portas do aviário do centro de conservação. Atraídos por comida, quatro maracanãs saíram de cativeiro, seguidos, alguns minutos depois, pelas araras-azuis mais curiosas, que foram as primeiras a sair.
Durante o dia, todas as aves foram entrando e saindo do aviário, o que leva a ACTP a considerar a experiência “um sucesso total”, dado que, hoje, “mais araras-azuis voam nos céus do Brasil do que alguma vez foram vistas na natureza antes de se extinguirem”, diz o comunicado.
A arara-azul, cuja imagem se popularizou graças ao filme de animação Rio (2011), em que as personagens principais são duas aves desta espécie, foi descoberta há mais de 200 anos pelo naturalista alemão John Baptist von Spix (o que lhe dá o seu nome em inglês, Spix’s macaw). Além de ser alvo de caçadores e colecionadores um pouco por todo o mundo devido à cor azul característica, a população de araras-azuis começou a entrar em declínio durante os anos 80 e 90 devido à destruição do seu habitat, a caatinga brasileira, e ao comércio ilegal.
Em 1990, apenas uma ave vivia na natureza – um macho, usado em tentativas de acasalamento com outras araras-azuis em cativeiro e com fêmeas de diferentes espécies. As tentativas não deram resultado até 2000, quando o último papagaio morreu. Rio (2011) é inspirado nesta história: o personagem principal é o último macho das araras-azuis, que é levado para acasalar com uma fêmea.
Em 2019, a espécie foi oficialmente declarada extinta em estado selvagem pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O baixo número de araras-azuis que ainda sobreviviam em propriedade privada não garantia variabilidade genética para a manutenção saudável das aves na natureza. Atualmente, existem pouco mais de 200 araras-azuis em todo o mundo.
Após um processo de mais de duas décadas em que o Governo brasileiro colaborou com entidades privadas para trazer esta espécie de volta à natureza, são agora 20 as araras-azuis que sobrevoam os céus brasileiros. No início do próximo ano, está previsto que mais 40 sejam transferidas da Alemanha para o centro de conservação na zona rural de Curaçá, onde vão ser preparadas para uma nova libertação.
(Transcrito do PÚBLICO)
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